sábado, dezembro 31

A Dívida Pública



A Ana pediu ao Júnior para se despachar e ir-se deitar porque ainda precisava de estudar mais umas matérias para o exame de Finanças Públicas.

O petiz interessou-se e quis saber se faltava muito. A mãe disse-lhe que só faltava dar uma olhadela à questão da dívida pública.

O miúdo fica ainda mais interessado e diz com fervor que a dívida pública mudou a vida dele! Que desde que ficou a saber da dívida pública percebeu que toda a sua vida tinha sido uma mentira. E repetia que era mesmo toda a sua vida, os seus já muito longos oito anos de mentira.

Ficámos todos perplexos, até eu, que estou mais ou menos demissionário destas funções cronicais. Que sim, que toda a sua vida tinha pensado que o dinheiro que tiravam ao pai e à mãe constantemente era para dar aos pobres e que só agora tinha percebido que não era para dar aos pobres nada, era pagar pagar a dívida de coisas que compraram e que ele nunca viu nem sabem aonde estão. E que continuavam a haver cada vez mais pobres, que ele tinha visto isso na televisão e aqui quase que gritava de tão exaltado.

Isto mudou a minha vida dizia desolado enquanto se ia deitar. Mudou mesmo.

E o grande problema da dívida pública, digo eu, não é dever: é não ter com que pagar!

domingo, dezembro 25

Spooky!





Então é assim o ponto de situação: a mãe tem pesadelos em que vê gente a ser morta pelos olhos dos que as matam, o filho tem pesadelos porque tem medo dos mortos e a filha vai no dia de Natal enterrar a Barbie para a praia.



E a mãe ainda diz "que estranho a Barbie assim enterrada parece a cena do último crime que me fez gritar". É tão curiosa a maneira como a Boneca empurra a cabeça da Barbie na areia...



Eu não sei o que o Pernas está a pensar fazer, mas eu papagaio Gaio Africano vou bater a asa!

sexta-feira, dezembro 23

Sweet dreams are made of this



Ultimamente ando a cair de sono no poleiro durante o dia tal é o desvario das noites. A Ana voltou à fase dos pesadelos e já ninguém aguenta mais acordar ao som dos gritos dela pela noite fora só para a ouvir contar histórias sangrentas que se passam naquele cérebro esquizofrénico. Grita tanto a dormir que um destes dias acordou rouca.

Parece que estamos todos a viver uma versão rasca do Shining.

Como se a ela não lhe bastasse ter tido a infância do miúdo do Sixth Sense agora em idade adulta vive como a tipa do Medium.

Há quem duvide que eu seja um animal real, pensam que eu sou um papagaio virtual mas posso garantir-vos que sou é um animal a viver na Twilight Zone.

DAMN!DAMN! DAMN!

domingo, dezembro 11

As maravilhas do ensino público

A Boneca desata a contar e já vai em 65 sem se enganar quando eu farto daquela lengalenga papagueio qualquer para ver se a interrompo.

É inútil! Ela continua até 100...

- Boa, diz a mãe, já consegues contar até 100!
- Não consigo nada!, responde a Boneca toda autoritária, só sei contar até 20! É o que a professora diz...

Amuleto





A Ana anda completamente farta dos exames e eles ainda mal começaram. Gostava de ter uma varinha mágica e acordar no dia 29 de Junho de 2012 na Praça de Londres...

Mas não sendo isso possível bastaria que o exame de amanhã não lhe desse demasiadas dores de cabeça...

E como era de artes mágicas e de uma viagem ao fantástico que precisava resolveu pedir ajuda ao Grande Mago Júnior...

- Júnior, tu não tens assim nada que me possas dar para me dar sorte no exame?

- Não tenho dinheiro, respondeu o Júnior, sabe-se lá porquê!

- Não estou a falar disso, estou a falar de um amuleto. Um objecto que tenhas e que te dê sorte a ti nos testes!

- Isso não tenho, diz o petiz com verdadeiro pesar. O que me dá sorte a mim é a minha inteligência, afirma já mais alegre, mas nem sempre, resmunga, como naquilo do TPC de português...

sexta-feira, novembro 25

sexta-feira, novembro 11

As maravilhas do ensino público



Desde que vivo aqui no poleiro que oiço a Ana enaltecer o ensino público. Passava até o tempo todo a enlouquecer as meninges do Pernas clamando que o colégio dos miúdos não passava de um Gueto sócio-económico e cultural sem a multiplicidade étnica essencial para os filhos dela.

Pelo que julgo saber foram anos nisto, até que o tal Gueto fechou o ano passado depois de ter sido penhorado pelas finanças.

Foi a oportunidade que a Ana há muito esperava e lá conseguiu que o Pernas fosse na história da escola pública. Não foi difícil. O Pernas já andava a contar os euritos que todos os meses não recebia porque o governo tinha decidido que não lhe faziam falta e concordou.

E a Ana lá foi à primeira reunião do Infantário da Boneca ansiosa por fazer parte daquela comunidade onde estariam representados todos os extractos sociais como se de uma amostra estatística do país se tratasse.

Veio satisfeita! Aquilo é que era uma escola como devia ser. A turma da Boneca tinha dois brasileiros, um ucraniano, um romeno, duas famílias carenciadas e, maravilha das maravilhas, a cereja em cima do bolo, a turma da Boneca tinha o seu próprio cigano!

Era o êxtase. Como se não bastasse a miúda no primeiro dia de aulas escolheu o cabide ao lado do ciganito apesar do Pernas ter tentado até ao ridículo que a miúda escolhesse outro mais distante.

Durou pouco o idílio da Ana com o ensino público.

A Boneca tem quatro anos e na escola pública os miúdos de quatro anos ainda não escrevem o seu próprio nome. Fazem desenhos e mais desenhos e mais desenhos e a Boneca estranha porque estava habituada a trabalhar.

No Gueto os miúdos eram estimulados independentemente da idade a desenvolver as suas capacidades...

Na semana passada a Boneca disse que tinha aprendido na escola a escrever os cinco primeiros números. A mãe estranhou, mas tu já sabias isso. Disseste à professora que já sabias? Que não tinha dito, e aqui parecia meio envergonhada, porque a professora não lhe estava a ensinar a ela, estava a ensinar os mais crescidos...ela estava apenas a fazer mais um desenho...

E quando chega a casa pede para trabalhar e lá vai escrevendo os nomes de todos cá da gaiola, e os números e as letras e o nome da terra em que vive que a professora escreve no quadro apenas para os mais velhos aprenderem mas que ela ainda não pode saber...

Se calhar há Guetos que valem a pena.

domingo, novembro 6

O mistério dos pontos finais desaparecidos



O Júnior prefere a Matemática ao Português.

Não gosta de cópias e de perguntas de interpretação e faz o mínimo possível. Do Português o que ele gosta é de escrever o que lhe apetece numa agenda que anda com ele para todo o lado.

Em vez de uma bonita caligrafia, nos cadernos escolares, apresenta uns garatujos completamente ininteligíveis. A professora já lhe disse que tem que melhorar a letra e o pai, esse anda a tentar "obrigá-lo" a mudar.

Hoje o Pernas estava fulo porque o miúdo tinha escrito um parágrafo enorme sem um único ponto final.

- Aonde estão os pontos finais?, pergunta ao Júnior? Já não te disse para colocares pontos finais.

O Júnior responde que pôs os pontos finais exactamente como o pai tinha mandado depois de mais uma das inúmeras correcções necessárias ao TPC de português.

- Onde estão?! , grita o pai já sem paciência.

- Estão aí! , diz o Júnior calmamente enquanto se aproxima do pai e do caderno. Estranho, acrescenta aproximando o nariz da folha, é estranho...da última vez que olhei estavam aí!!!

E fica a olhar para o pai...

Um cogumelo, dois cogumelos, três cogumelos...

Na cozinha.

- Vês, diz a mãe pedagógica, isto é que é um cogumelo e não aquelas fatias pequeninas que utilizamos normalmente. Esses estão laminados e é o mais prático para cozinhar. Estes são cogumelos como são na realidade, têm um pezinho aqui e uma cabecinha. Se não fosse o papá não comprar nada como eu lhe peço, acrescenta, nem uma lata de cogumelos laminados, sabe comprar, tu não poderias ver um cogumelo inteiro.
- Eu já vi um cogumelo verdadeiro, declara a Boneca, vi na tevisão! E era igual como esse. Igual mesmo.Só que não tava aí, aparecia no chão pintado na relva...

sábado, outubro 29

As alegrias suplementares do exercício físico!




A Ana hoje foi a uma aula de Body Pump avançada, daquelas em que estão todos em super forma e que seguramente a vai deixar sem conseguir levantar os braços ou descer as escadas por muitos dias.

Mas não será por isso que não voltará a essa aula. Quando chegou disse-me que se calhar tinha sido a primeira e a última vez porque achava que sem querer se tinha atirado ao professor.

Estava no step a fazer abdominais de barriga para cima com elevação de pernas quando o professor se aproxima e lhe iça as pernas dizendo que o rabo não pode tocar no step durante o exercício.

Como se não bastasse coloca-se de cócoras com a face ao nível da dela, mete a mão dele entre o step e a bunda dela, olha-a nos olhos e diz:

- A minha mão deveria poder ficar sempre aqui.

À pobre Ana quase em apneia para conseguir manter a posição de elevação de pernas e traseiro, cheia de dores na parede abdominal, não lhe ocorre mais nada do que responder:

- Era bom!

Parece que o que ela queria dizer com aquele era bom é que seria bom porque, estaria em forma se conseguisse fazer aquela elevação de anca enquanto fazia os abdominais, percebem?
Quem não a conheça que a compre!
Mas com a desculpa de que é um desastre relacional, o tipo é que é um perverso porque ficou a olhar para ela fixamente com um ar divertido do tipo é incrível mas esta tipa está a meter-se comigo...

Enfim, minha menina...vai mas é lavar o cabelo enquanto consegues elevar os braços!

terça-feira, setembro 27

Coisas de gaja

-Boneca, pergunta a mãe, como vai o teu namorado o José Manuel?
- O José Manuel já não é meu namorado, responde a miúda com indiferença, enquanto lava as mãos. A Joana diz que ele agora namora com a Luna.
- Namora com a Luna?!, exclama a mãe meio escandalizada.
- Sim, a Joana diz que ele disse que agora namora com a Luna. Só que ela não sabe. Eu não importo que ele namore com ela, não importo, a sério.
- Mas afinal, pergunta a Ana já meio farta da Luna, quem é essa Luna que eu não conheço?
- A Luna? , responde a Boneca na sua vozinha de quatro anos acrescentando uma gargalhadinha de desprezo daquelas utilizadas para as pessoas totalmente desadequadas, a Luna é aquela que já levou uma saia cor de laranja dois dias seguidos. Se calhar não tem outra, acrescenta com ar trocista.
Acaba de secar a mãos na sua toalha e ainda diz, abanando a cabecinha com ar reprovador:
- Quem é que leva a mesma saia prá escola dois dias seguidos?!

domingo, julho 24

O melhor e o pior

Aqui na gaiola há o hábito de nos dias de férias ou nos fins-de-semana em que estão todos em casa fazerem um resumo do dia, ao jantar, em que cada um diz o que gostou mais e o que gostou menos nesse dia. O melhor e o pior de cada dia.
E todos têm que participar!
Uma mania importada dos States...
:)
Hoje não foi excepção só que o Júnior não estava nada virado para isso e tudo fazia para boicotar o depoimento dos outros principalmente o da Boneca que ele adora arreliar.
Fazia então todas as macaquices que sabe, imitando vocês e desconversando no seu melhor quando o Pernas perdeu a paciência.
(Nota: O Pernas perde tantas a vezes a paciência que nem sei porque se dá ao trabalho de a voltar a encontrar porque é certo e seguro que passado pouco tempo não sabe o que fez dela novamente...)
Enfim, o Pernas grita com o Júnior e diz-lhe que se cale imediatamente, que coma e que tire os cotovelos de cima da mesa acrescentado que se isto continua lhe dá um valente par de estalos.
O Júnior fica impassível, tira os cotovelos da mesa, endireita as costas e começa a comer com os cotovelos tão junto ao corpo que parece que segura um par de livros debaixo dos braços...sem retirar os olhos do prato diz de uma forma naturalmente digna numa voz pausada:
- Bom, pelo menos agora já sei o que gostei menos do dia de hoje.

domingo, julho 10

People don't grow up: people grow old!

O Júnior está de castigo desde ontem à noite à hora do jantar e não pode ver televisão. Entornou um copo de água na mesa, com muito prazer, e obrigou a que tudo fosse limpo e reposto para a refeição.
Hoje, já saturado do castigo, pediu à Boneca que fosse como intermediária junto da mãe para levantar o castigo.
A mãe chamou-o e perguntou-lhe se ele se lembrava porque estava de castigo. O Júnior respondeu com candura mas também sem o mais leve sinal de arrependimento que estava de castigo porque tinha derramado um copo de água na mesa à hora de jantar de propósito.
A Ana disse-lhe, se me prometeres que não voltas a fazer isso nunca mais, sais do castigo e podes ver televisão.
O Júnior respondeu que não podia com um ar sério e compenetrado. Não pode ser mamã, não posso prometer. E se me apetecer voltar a derramar um copo de água na mesa?

Esta história fez-me lembrar uma amiga minha, sim porque eu tenho mais amigas, é o que dá ser um pássaro e poder voar. Esta minha amiga tinha um namorado casado e um dia recebeu um telefonema do número habitual só que quem estava do outro lado era a mulher do namorado dela.
Ups!
A mulher dele ao se aperceber do número de chamadas do marido para um determinado número resolveu resolver o assunto. Ordenou-lhe naquele tom de voz que a Ana utiliza com os miúdos quando fazem alguma maldade que lhe prometesse que não voltaria a telefonar ao marido.
Resolveu resolver...
Ordenou-lhe que prometesse...
Há quem precisa de fazer urgentemente um curso de psicologia!
A minha amiga respondeu que não sabia se poderia ser. Não sabe?! Não sabe?! Descabelava-se a legítima ameaçando na hora que se assim fosse iria pôr na rua o homem objecto da contenda. Mas a minha amiga, com uma candura parecida com a do Júnior, só conseguia balbuciar que não conseguia prometer: e se eu voltar a ter vontade de falar com ele?

Hhehehehehehe
People don't grow up, people just grow old.

PS: O Júnior está a ver televisão. Voltou a conversar com a mãe e perguntou-lhe se poderia ver TV se fizesse um pedido de desculpas arrependido. A mãe perguntou-lhe se ele tinha um pedido de desculpas e se estava arrependido? Ele voltou a afirmar calmamente que não. Que era só uma ideia. A mãe já estava a perder a paciência e perguntou-lhe porque não pedia ele desculpa? Ele respondeu que as desculpas não se pedem, evitam-se. A mãe ficou farta e mandou-o ir ver TV...

Pergunta: Se o desfecho para a história do Júnior foi esta, qual será o desfecho da história da minha amiga?...
;-)

segunda-feira, julho 4

O Vice-Marido

Ao jantar a Ana diz, depois de passar os olhos pela publicação de referência da gaiola - A Flash - , que o Angélico era mesmo bonito.
Mete mais uma uva sem grainha na boca e volta a declarar, desta vez ainda com mais ênfase e como se estivesse a falar sozinha, que o Angélico era mesmo bonito. Lindíssimo. E que nunca tinha reparado.

O Júnior levanta a cabeça do prato e diz na sua vozinha infantil: Não me digas que gostas mais do Angélico do que do Papá!?

Claro que não é a resposta da mãe já com um sorriso divertido. Só estava a dizer que o Angélico era bonito, lindíssimo. Uma coisa não tem nada a ver com a outra.

- Sim, volta a insistir o miúdo, se calhar gostas mais dele do que do Papá mesmo. Já disseste isso de ele ser bonito bué vezes! Não me digas que vais querer esse Angélico para vice-marido ou lá o que é?!

-Papá, será que a mamã vai arranjar um vice-marido? Será?

Nota: Eu, não sei bem porquê, prefiro a expressão Marido-adjunto...deve ser a minha costela republicana a funcionar...

quinta-feira, junho 30

Não há machado que corte...

"When we don't speak, said Edgar, we become unbearable, and when we do, we make fools of ourselves."


Não sei se era da Ana andar a ler e reler o livro da Herta Muller e sempre a citar frases do livro, mas a verdade é que aqui na gaiola as coisas estavam cada vez mais parecidas com a Roménia de Ciao.

Cada um de nós até parece que assumia uma das personagens do livro de forma natural.

Por exemplo, as refeições pareciam verdadeiras sessões de interrogatório do Capitão Pjele, só que com o Major Pernas, enquanto que o Júnior era com certeza um dos rapazes do livro, talvez o Edgar, afinal quero que o miúdo sobreviva.

Eu pelo sim pelo não imagino-me o Georg só que mais bem sucedido, sou passáro mesmo dos que voam....


A avó é obviamente a Avó que canta não porque ela cante mesmo mas porque nos consegue enlouquecer a todos com os seus raciocínios (i)lógicos, especialmente quando discorre sobre os seus conhecimentos sobre pássaros, mas isso terá que ficar para outra altura.


Não faço o resto da distribuição do elenco, vocês que leiam a história e pensem...


O Pernas é autoritário e quer que os miúdos se sentem direitos, comam com os cotovelos junto ao corpo sem estarem apoiados na mesa e de boca fechada. Tudo tem que estar alinhado e perfeito , desde as fatias de pão cortadas da forma correcta ao queijo fatiado sem mácula. Mas é muito mais rígido com o Júnior do que com a Boneca.


O Júnior passa a vida a reclamar que a Boneca tem os cotovelos em cima da mesa, que a mamã não está direita ou que a avó está a falar alto. O Pernas ordena ao Júnior que se cale e já saturado diz-lhe que pare de pensar no que os outros estão a fazer ou não.

- Para de pensar nos que os outros estão a fazer ou não!, grita o Pernas zangado, e pensa apenas em ti e no que estás fazer!


É então que o Júnior para de reclamar e diz com a calma e a clareza dos justos, não esquecendo o sorriso cândido de quem sabe que acabou de dizer o óbvio:

- Desculpa papá mas isso é uma parte da minha vida em que tu não mandas: os meus pensamentos. Eu penso naquilo que eu quiser!


(Não há machado que corte a raiz ao pensamento.)

domingo, junho 19

Facts of life

Ontem ao almoço depois do campeonato de natação do Júnior.

Ana: Júnior, aquela menina, a Inês da tua escola namora com quem?

Júnior: A Inês não tem namorado!

Ana: Mas tu tinha dito que ela namorava com o Joaquim!

Júnior: Não disse nada! A Inês não namora com ninguém! O Joaquim é que namora com ela...

quarta-feira, junho 15

Boys will be boys

A Ana hoje chegou a casa com um monte de saquinhos na mão cheios de lingerie e um biquini.

Andou à minha procura para me mostrar, que eu sei, afinal não é à toa que montei um sistema de video-vigilância por toda a casa, que eu sou um pássaro controlador. Para além disso gosto de dar as minhas escapadelas e corro dessa forma o risco de perder alguns momentos na gaiola que posso querer cronicar.

Só lhe restou o Júnior que acedeu a ver o que ela tinha comprado enquanto comia um monte de bolachas.

Assim que viu o biquini às riscas disse que gostava com demasiado entusiasmo o que me deixou meio preocupado: querem lá ver que o miúdo joga com os dois pés esquerdos? Mas rapidamente essa ideia morreu apesar do interesse com que passou com as mãos pelos soutiens macios enquanto escolhia aquele que mais gostava.

-Posso ver como fica?, perguntou, com o biquini na mão, segurando as duas peças em frente da mãe.

Ficou a olhar com ar apreciador.

-Fica-te muito bem, exclamou.

-Achas? , perguntou a Ana meio insegura.

-Acho. Estás linda mamã. Mas sem roupa ainda vai ficar melhor....

terça-feira, abril 5

15 till she dies...


A Vovó chegou depois de dois meses nos EUA e de imediato a Ana voltou a ter 15 anos.


No dia da chegada foram almoçar ao Chinês que a Vovó gosta com a Loira e a Ching Ling. A Loira sempre prevenida na hora de pedir as bebidas optou por um Ice Tea. Já a Ana e a Ching pediram uma Imperial.


Imediatamente a Vovó dispara em tom recriminatório, opressor e até pasme-se magoado:


- Tu vais beber uma imperial?


- Sim, vou, respondeu a Ana abespinhada, e depois da imperial e do almoço vou fumar um ou dois cigarros que uma delas me vai dar!


A Vovó faz um ar magoado e reprovador enquanto diz o típico " tu fazes aquilo que te apetecer". Entretanto ouve-se a Ching Ling acrescentar muito divertida:


- E se tivermos tempo ainda vai uma linha de coca!


A Vovó amuou...

terça-feira, março 22

Promessas, promessas...


Overheard
Ana on the mobile with Blondie

- A minha amiga está cheia de sorte! Conseguiu aquilo que queria no trabalho.

- !!!!!

- Até vai a Fátima pagar a promessa que fez. Paga lá a promessa e leva uma vela com um metro e oitenta
- ????

- Então, 1.80 é a altura do benfeitor dela que a apoiou de forma exemplar no trabalho e a ajudou a conseguir a promoção.

- *****

- Se esse apoio foi na horizontal? ehehehehehehe
- *****

- Achas que ela deveria antes levar uma vela de 20cm? 20 cm?! Ela também não tem assim tanta sorte!

quinta-feira, março 3

Palácio dos Puns

A Ana quando era pequena referia-se à casa de banho como a Casinha do Plof por razões que me escuso a comentar.O Júnior, que herdou a mania das grandezas do avô Moisés, sempre que entra na casa de banho diz:
- Bem-vindo ao Palácio dos Puns!, com ar pomposo e grandiloquente.

Palácio dos Puns...
:o)

sábado, fevereiro 26

A vida


- A vida pode ser muito estranha, diz ela, sentando-se na mesa da cozinha com um pacote de Oreos cobertas de chocolate. Se não vê lá isto, diz enquanto come uma bolacha.

Tiro a cabeça de baixo da asa e olho para ela. Não me digam que está a falar comigo?! Logo ela que não me liga nenhuma e me dá a mesma importância que daria a um papagaio empalhado apesar dos 750 euros que pagou por mim!

- Imagina esta situação...uma mulher de 40 anos com filhos, com marido, com namorado, com amante, com amigos e amigas vários, enfim...uma mulher com um coração grande!

Tento fazer um ar casual ao ouvir esta descrição sobre o tamanho deste coração enquanto a oiço afinal, se resolveu falar comigo o melhor é fingir que essa mulher é toda coração...

- Esta mulher chega ao fim do dia e quer contar um episódio engraçado que lhe aconteceu no trabalho e não tem quem a oiça. Os filhos são pequenos para perceberem a piada, o marido está demasiado envolvido na gestão das pequenas tarefas domésticas e quando pára quer é contar-lhe o seu dia. Ligar ao namorado seria impensável, o que iria a mulher dele pensar?! O amante? Esse está apenas interessado em outros assuntos...Ela até poderia telefonar a outras pessoas mas acabará certamente com uma amiga a contar-lhe os problemas conjugais ou a ouvir de um amigo brutais proezas sexuais.

A Ana já comeu a segunda bolacha e inicia a terceira Oreo.

- Acaba por ligar o computador e tentar o Facebook. Assim que o faz fica on line com os predadores do costume que precisam de teclar diariamente o quando gostam dela e o que gostariam de fazer com ela. Bloqueia mais um enquanto tecla com uma amiga que precisa de desabafar.

Come a quarta Oreo, olha para mim com ar culpado enquanto diz que que só ali estão 400 calorias...

- Enfim...só para te dizer que ela acaba a noite sozinha a contar a sua história num blogue qualquer que ela mantém e que ninguém lê. É estranha a vida não é, Gaio?

Quando o silêncio se instala sinto que tenho que dizer alguma coisa. Mas o quê?

- Não te preocupes, digo-lhe em tom leve, tu nunca acabarás sozinha a escrever num blogue qualquer. Ter-me-ás sempre a mim, o papagaio Gaio, para conversar.

- E com isso deveria ficar consolada?, diz-me ela, olhando-me perigosamente de atravessado. Depois disto tudo é isso que tens para me dizer? Deixa-me que te diga que és sem margem para dúvida um psitacideo macho!

- Bom, digo-lhe, com ar mau e voz zangada, também te podia ter dito que a comer dessa maneira vais ficar uma vaca gorda incapaz de manter o marido quanto mais arranjar um namorado e mais um amante!

Silêncio de morte. Estou perto da janela e certifico-me que ainda sei voar. Ela vai atirar-me do sétimo andar, ai se vai...

Só que de repente começa a rir às gargalhadas, os olhos cheios de água, engasga-se com a enésima Oreo, a boca toda cheia de chocolate.

- Essa teve piada Gaio, só tu para me fazeres rir, diz toda encarnada.

Eu nem respondo. Se lhe fosse dizer aquilo que me apeteceu de repente fazer à aquela boca com sabor a chocolate, era bloqueado na vida real!

sábado, fevereiro 12

Anatomia para Totós


Sábado, 12.02.2011, 11.05 a.m.

A Ana entra em casa a correr, ofegante, atira-se para o sofá e diz:

- Bom...estas aulas de GAP parecem fáceis mas dão cabo de uma pessoa!

O Pernas e o Júnior, que estão na sala, levantam os olhos e fazem uma expressão vagamente inquiridora.

- É só trabalho de pernas, abdominais e glúteos mas uma pessoa chega ao fim completamente exausta.

- Não estou a perceber, diz o Júnior parando de pintar o enésimo desenho sobre Star Wars, o que é que é isso das pernas, dos abdominais e dos glúteos?

- Então, pernas é fazer exercícios só com os músculos das pernas, os glúteos são os músculos do rabo e abdominais são exercícios...

- São os músculos da pilinha!, interrompe o Júnior.

A Ana pára, arregala os olhos perplexa, só para ouvir o Júnior repetir com mais ênfase aquilo que havia dito.

-Então? Não me digas que os abdominais não são os músculos da pilinha?!, diz ele meio confuso.

- Não Júnior, não são, diz a Ana com um ar conformado, são os músculos da barriga.

- A sério? Nunca pensei, diz o Júnior, já meio desinteressado continuando a pintar o décimo desenho da manhã sobre o incontornável tema do costume.

- Mas, diz a mãe ainda meio atarantada, porque é que pensaste que os abdominais seriam os músculos da pilinha?

- Sei lá!, responde a criancinha. Olha, foi a primeira coisa que me veio à cabeça diz sorrindo como se tivesse tido uma ideia brilhante.

- Estou a ver, resmunga para si a nossa heroína, com essa associação de ideias...quais são as tuas prioridades...

Mas o miúdo já não a ouve se afinal a conversa já não é sobre O Apêndice mais vale concentrar-se em assuntos bélicos.

:-)

sexta-feira, fevereiro 11

AR/DR ou a Metáfora do Ruído


- Mamã quem que comprou esta cama? diz o Júnior espalhando-se ao comprido pela enorme cama da mãe?


- Esta cama? A mamã e o papá.


- Sim , mas quem é que a escolheu?


- O Pai e a Mãe!


- Mas porque escolheram uma cama tão grande se só tu é que dormes nela? Dá praí para umas 3 pessoas!!!


- Ah ! Já percebi! A cama foi escolhida antes do pai começar a ressonar.

Parecenças

O Júnior entra na cozinha de mãos nos bolsos e pergunta à avó com interesse "Avó quando fazes uma refeição que eu goste?" e continua a falar expondo o seu desgosto por ultimamente não ser nada do seu agrado, mas a avó já não o ouve e parece ter ficado paralisada.

Diz completamente perplexa e comovida onde vais tu buscar estas expressões Júnior? A única pessoa que me perguntava assim o que era o almoço era o teu avô Moisés, perguntava sempre o que era a refeição ou quando faria esta ou aquela refeição. És tão parecido com ele que até falas como ele apesar ainda seres tão pequeno quando ele morreu.

O Júnior fica com ar meio atrapalhado mas agradado, meio contido o que de acordo com a avó o faz ainda mais parecido com o avô e abraça-o com força muito comovida.

O Júnior aproveita para repetir a pergunta até porque ele quer mesmo saber quando vai
poder comer pizza ou lasanha ou ainda esparguete à bolonhesa.

Quando a avó lhe diz que o jantar vai ser peixe grelhado o Júnior fica fulo e começa a gritar, dá uns pontapés nuns garrafões de água que estão no chão e sai da cozinha batendo com a porta com muita força.

A avó, nessa altura, diz bem alto para todos ouvirem, "Valha-me Deus esta criança é tal e qual o pai dele".

Afinal em que ficamos?