sexta-feira, novembro 2

Os novos traumas do Júnior

Um destes dias a meio de um telejornal qualquer o Júnior começou a chorar muito assustado com a crise. Os malditos comentadores, que agora são mais que as mães, e os seus cenários negros, assustaram o miúdo que soluçava a plenos pulmões que não queria que Portugal saísse do Euro.

É claro que o Pernas levou isto muito a sério e passou a considerar o Telejornal, seja ele de que canal for, impróprio para a idade dele e o Júnior ficou proibido de ver as notícias que estão agora equiparadas pelo pai ao Naruto que o miúdo não pode ver por lhe darem pesadelos e provocarem ansiedade. E enquanto o Júnior soluçava ao colo da mãe ela lá lhe ia prometendo que Portugal não ia sair nada do Euro embalando-o como se ele ainda fosse um bebé.

Eu e ela estávamos obviamente perdidos de riso para vos ser franco, convenhamos que era uma cena cómica vista aqui do aquário ou de outro ponto qualquer: um miúdo de oito anos a chorar baba e ranho por causa da crise financeira...

Mas a situação ficou ainda mais descontrolada com o jeitinho que a Ana tem para consolar as almas dos outros com a dura realidade e o Júnior ficou ainda mais fora de si quando a mãe lhe disse que não se preocupasse porque ela tinha um plano para o caso de Portugal sair do Euro que iria impedir que a família ficasse na miséria, que iria impedir que a casa da família fosse pilhada, que não haveria por cá fome e não ficaríamos sem nada como a grande maioria da população naquela fase revolucionária da transição do euro para o escudo.

E lá lhe explicou que como toda a família ficaria sem rendimentos por alguns meses porque todos trabalham para o Estado, estado esse que está e estará ainda mais insolvente e não haveria dinheiro para lhe pagarem os salários, ela já tinha juntado alguns dólares que estariam escondidos para as despesas correntes. Também acumulava comida não perecível. Explicou-lhe que o arroz e o açúcar duram dez anos bem armazenados, as massas cinco, as conservas também e que agora andava a juntar sal para conservar a carne que o papá teria que caçar, durante os primeiros meses, se a situação do país se agravasse. Tinha tudo planeado. Quanto mais ela explicava mais o miúdo chorava e até o Pernas que ouvia tudo com aquela perplexidade dos maridos que são sempre o últimos a saber não escondeu o espanto quando soube que teria que caçar!  Ainda perguntou mas vou caçar aonde? E o quê? Vais-me dizer que vou andar aos coelhos e aos pássaros não? Dispenso-me de relatar aqui o plano dela para caçar coelhos, javalis e veados na Tapada de Mafra e o plano de ocupação militar desse espaço de recreio porque só isso daria mais um artigo de ir ás lágrimas...

Mas, quem lagrimava cada vez mais era o Júnior : chorava e soluçava porque tudo lhe parecia cada vez mais real....

A mãe tentava acalma-lo dizendo que se tudo ficasse mesmo impossível em Portugal iriam viver para os  EUA: estava tudo combinado com a tia Lhena e tudo se resolveria.

E lá foi a criança a soluçar para a cama só conseguindo adormecer de mão dada com a mãe que lhe sussurrava Portugal não vai sair do euro, Portugal não vai sair do euro, Portugal não vai sair do euro....