quinta-feira, outubro 15

A pobre idade a chegar

O Júnior está a mudar de voz, está assim a ficar com a voz rouca e mais funda, mas só de vez em quando.
 
A Ana anda triste com isto porque assim é menos uma pessoa com quem a podem confundir ao telefone. Neste momento, por exemplo, para a avó acreditar que é ela ao telefone e não o Júnior, é submetida a uma série de perguntas de segurança , coisas que o Júnior nunca poderia saber, como por exemplo quem foi o décimo terceiro namorado da tia Lhena...
 
O Júnior também está apreensivo. Ele gosta de se fazer passar pela irmã, pela mãe e até pela avó...
 
Para o consolar, a Ana lembra-lhe que a partir de agora poderá sempre passar a fingir, ao telefone, que é o pai.
 
- Nã, é mais complicado, diz o miúdo, meio desanimado.
 
- Não fiques assim. Vais ver que consegues, quando estabilizares a voz.
 
- Tens razão! Já sei! Posso mesmo imitar o pai telefone! Só tenho que atender e fazer sempre uma voz ligeiramente aborrecida...
 
ahahahahahahahahahahah
 
Desculpem. Mas ainda não consegui parar de rir.

 

terça-feira, outubro 13

O meu amigo imaginário é melhor do que o teu...

A Morena liga, mais uma vez, do Continente e pergunta com voz desdenhosa pelo amigo imaginário da Ana.
- Como vai o teu amigo imaginário?
- O Miguel? Está tudo bem com ele.
- Já fez a desintoxicação?
- Já...
- Ana, esses tipos estão sempre a ter recaídas e depois és tu que tens que aguentar o barulho...
- Lá estás tu... É só um amigo imaginário com quem gosto de conversar. Não tem nada de mal.
- Não tem nada de mal, não tem nada de mal...Tu tens é que arranjar alguém que te valorize. Não te percebo. Oh Ana, mas porque é que o teu amigo imaginário é um cocainómano recorrente? Não poderias ter escolhido melhor?...
- Hum...poder, poderia mas não seria a mesma coisa. Sou como o teu amigo imaginário, gosto de gerir impossibilidades...




terça-feira, outubro 6

O Metralha regressa à escola

 
O Júnior terminou o ano escolar em grande: os pais de um colega de turma apresentaram queixa contra ele, à polícia.
Aparentemente, o Júnior e um colega divertiam-se enviando SMS ameaçadoras a um colega novo na turma. Pérolas literárias como vais morrer, sei onde moras, diz as tuas orações que não passas de amanhã e por aí fora.
Se estivéssemos nos anos 80, tudo isto teria sido dito na cara do outro puto e no máximo dos máximos, o Júnior  apanharia umas lambadas do pai do outro miúdo mas, como estamos no século XXI é a polícia que resolve os casos de perseguição escolar... É que aos outro pais nem lhes ocorreu primeiro abordar a escola...nada disso! Isto é caso de polícia...
O Pernas quando soube viveu momentos complicados. Ele, o representante dos pais nas reuniões escolares, conhecido por não perdoar aos alunos infratores nem aos seus dissolutos pais, era agora o pai do "so called" aluno mais perverso da turma.
Não dormia, passava a vida a perguntar-se onde teria falhado. O seu filho afinal era um pulha, não era aquele bom miúdo que ele pensava. Já falava em castigos perpétuos e colégios internos.
A Ana também fico perplexa. Não conseguia perceber como é que Júnior se tinha deixado apanhar e mentalmente corrigia a ortografia das tais mensagens! Estava demasiado desapontada e só pensava que nem um delinquente bem sucedido conseguia criar. Estava de rastos, ela que durante os seus tempos de escola atormentou sem piedade, nem distinção de género, só para aliviar o stress, sem nunca ter sido apanhada.
De qualquer forma, o bom senso lá acabou por imperar entre os adultos. No fim tudo se resolveu com um pedido de desculpas do Júnior, que já se via numa dessas casas de correção só porque tinha queda para escrever literatura neo-noir.
O Júnior, ao pai, prometeu que teria mais juízo de aqui para frente. À mãe prometeu que, caso quisesse enveredar pela vida do crime, iria passar a planear as suas ações maléficas com mais premeditação.
E assim terminou o sexto ano e começou sétimo.
Estamos o quê? Na terceira semana de aulas e já trouxe um recado na caderneta e uma perturbação da sala de aula, em conjunto com outro miúdo.
A Ana ainda pensou que era o mesmo compincha do ano passado, mas não, é outro miúdo, que ele nem conhece.
- Se não conheces, nem é teu amigo, porque estás sentado ao lado dele?
- A professora não nos deixa sentar onde nós queremos, acredita que na ordem alfabética, diz que é melhor para evitar distúrbios...Pelo visto está enganada, diz levantando ligeiramente sobrancelha, com um ar imperturbavelmente cínico....

Ahahahahahahahaha
Este miúdo faz-se pensa a mãe...tem é que deixar de ser apanhado...