É verdade e não se trata de mais uma postagem com título chamativo. A Dulcineia de facto morreu. Eram 7.30 da manhã quando cheguei ao escritório para me despedir dela como era habitual. Quando me parecia que tinha muita fome dava-lhe logo a ração. Estava deitada no fundo da gaiola naquela posição que tanto gostava. Toda esticada e de lado como se estivesse a apanhar sol na barriga. Como se estivéssemos nos primeiros dias de primavera. Só que desta vez não piscou os olhos quando me ouviu chama-la. Nem sequer fez aquele ar enfadado. Lá vem esta interromper o meu descanso! Nem saltou para me cumprimentar como fazia quando estava para aí virada. Nada!
Toquei-lhe e ainda estava quente mas já não respirava. Tirei-a da gaiola e enrolei-a numa fralda da minha filha que tinha uma tartaruga cor de rosa aplicada. De certeza que me detestou por isso ela que se insurgia sempre contra a ditadura do cor de rosa imposta às fêmeas.
Ao fim da tarde enterrámos-la no campo, o meu filho, o meu marido e eu. Não foi propriamente uma guarda de honra mas aposto que ela se teria divertido se tivesse visto o meu marido todo transpirado a abrir um buraco suficientemente grande e desta vez a fazer alguma coisa pela "coelha"sem refilar. Calado. Por último marcámos o local com uma pequena placa em madeira com o nome dela.
E foi assim. Tive que me despedir daquele pêlo macio e... daqueles dentões que me morderam tantas vezes e do ruído daqueles passinhos no soalho. Não foi fácil a despedida como não foi fácil o convívio durante estes quase 4 anos nem para mim nem para ela. Imagino se tivesse sido ao contrário. Aposto que teria ficado furiosa comigo e ter-me-ia acusado de deserção. Fula, de certeza que me gritaria aos ouvidos: ao menos podias ter-me avisado que ias morrer, não é!? Tinha muito mau feitio mas como dizia o meu filho " era mesmo adorável".
Quem assina hoje sou eu: a Ana da Dulcineia.