quarta-feira, dezembro 2

Boneca, a Herética

Hoje Costa apresentou o novo governo ao país.

Aqui no aquário todos detestam o Costa.
 
Só que a Boneca de repente decide dizer que gosta daquele senhor, e aponta para o Costa, gosto dele: pelo menos é alegre!
E é assim! 
Em Portugal temos todos 8 anos e gostamos de pessoas alegres.
Portugal é o passeio dos alegres

domingo, novembro 1

Dia dos mortos, não todos santos


Hoje a Ana acordou antes das cinco da manhã e gritou. Gritou tanto que ficou rouca, ali sentada de olhos abertos, na cama.
A Boneca, que dormia com ela acordou e perguntou porque tinha a mãe gritado.
A mãe respondeu-lhe que tinha tido um pesadelo, tinha visto uma criança ali parada ao lado da cama e que lhe tinha parecido estranho.
A Boneca perguntou se a criança ainda lá estava, a mãe disse que não e a miúda voltou a dormir.
 
(Já que a Ana já estava acordada aproveitou para mandar umas mensagens para o seu amigo imaginário.
Fazia todo o sentido...afinal já que estava a ver coisas... Claro que ele não respondeu, não fosse ele um amigo imaginário à séria.)
 
À noite, a Boneca começou a chorar à hora de deitar porque estava com receio que o menino de ontem estivesse no quarto.
A mãe perguntou que menino.
Aquele que tu também viste e que estava ontem aqui no quarto de joelhos e com um capuz na cabeça. Eu até tapei a cabeça com o lençol e virei-me para a janela só para não o ver. Foi antes de tu gritares, mamã.
 
Olho para a Ana e vejo como fica vermelha com o choque e faz um esforço para não começar a chorar, como a Boneca, que tem lágrimas grossas que lhe descem, pelas bochechas, até à T-shirt branca.
 
Diz, eu vi foi uma menina, mais ou menos da tua idade, mas que parecia mais pequenina. Agora já sei porquê: estava de joelhos....
Eram dois? Pergunta a miúda, de olhos arregalados. Mas e o que estavam a fazer aqui?! 
Não faço ideia responde a Ana. Podemos perguntar se voltarem.
Achas que vão responder, diz a miúda ainda em lágrimas.
Não sei fofinha. Quando era da tua idade havia um menino que ficava sempre no canto do meu quarto, perto do roupeiro. Nunca consegui que me dissesse porque estava ali...até que deixou de aparecer...

Percebem agora porque o Papagaio Gaio bateu a asa?... Esta Malta tem o seu próprio on-going Halloween...

quinta-feira, outubro 15

A pobre idade a chegar

O Júnior está a mudar de voz, está assim a ficar com a voz rouca e mais funda, mas só de vez em quando.
 
A Ana anda triste com isto porque assim é menos uma pessoa com quem a podem confundir ao telefone. Neste momento, por exemplo, para a avó acreditar que é ela ao telefone e não o Júnior, é submetida a uma série de perguntas de segurança , coisas que o Júnior nunca poderia saber, como por exemplo quem foi o décimo terceiro namorado da tia Lhena...
 
O Júnior também está apreensivo. Ele gosta de se fazer passar pela irmã, pela mãe e até pela avó...
 
Para o consolar, a Ana lembra-lhe que a partir de agora poderá sempre passar a fingir, ao telefone, que é o pai.
 
- Nã, é mais complicado, diz o miúdo, meio desanimado.
 
- Não fiques assim. Vais ver que consegues, quando estabilizares a voz.
 
- Tens razão! Já sei! Posso mesmo imitar o pai telefone! Só tenho que atender e fazer sempre uma voz ligeiramente aborrecida...
 
ahahahahahahahahahahah
 
Desculpem. Mas ainda não consegui parar de rir.

 

terça-feira, outubro 13

O meu amigo imaginário é melhor do que o teu...

A Morena liga, mais uma vez, do Continente e pergunta com voz desdenhosa pelo amigo imaginário da Ana.
- Como vai o teu amigo imaginário?
- O Miguel? Está tudo bem com ele.
- Já fez a desintoxicação?
- Já...
- Ana, esses tipos estão sempre a ter recaídas e depois és tu que tens que aguentar o barulho...
- Lá estás tu... É só um amigo imaginário com quem gosto de conversar. Não tem nada de mal.
- Não tem nada de mal, não tem nada de mal...Tu tens é que arranjar alguém que te valorize. Não te percebo. Oh Ana, mas porque é que o teu amigo imaginário é um cocainómano recorrente? Não poderias ter escolhido melhor?...
- Hum...poder, poderia mas não seria a mesma coisa. Sou como o teu amigo imaginário, gosto de gerir impossibilidades...




terça-feira, outubro 6

O Metralha regressa à escola

 
O Júnior terminou o ano escolar em grande: os pais de um colega de turma apresentaram queixa contra ele, à polícia.
Aparentemente, o Júnior e um colega divertiam-se enviando SMS ameaçadoras a um colega novo na turma. Pérolas literárias como vais morrer, sei onde moras, diz as tuas orações que não passas de amanhã e por aí fora.
Se estivéssemos nos anos 80, tudo isto teria sido dito na cara do outro puto e no máximo dos máximos, o Júnior  apanharia umas lambadas do pai do outro miúdo mas, como estamos no século XXI é a polícia que resolve os casos de perseguição escolar... É que aos outro pais nem lhes ocorreu primeiro abordar a escola...nada disso! Isto é caso de polícia...
O Pernas quando soube viveu momentos complicados. Ele, o representante dos pais nas reuniões escolares, conhecido por não perdoar aos alunos infratores nem aos seus dissolutos pais, era agora o pai do "so called" aluno mais perverso da turma.
Não dormia, passava a vida a perguntar-se onde teria falhado. O seu filho afinal era um pulha, não era aquele bom miúdo que ele pensava. Já falava em castigos perpétuos e colégios internos.
A Ana também fico perplexa. Não conseguia perceber como é que Júnior se tinha deixado apanhar e mentalmente corrigia a ortografia das tais mensagens! Estava demasiado desapontada e só pensava que nem um delinquente bem sucedido conseguia criar. Estava de rastos, ela que durante os seus tempos de escola atormentou sem piedade, nem distinção de género, só para aliviar o stress, sem nunca ter sido apanhada.
De qualquer forma, o bom senso lá acabou por imperar entre os adultos. No fim tudo se resolveu com um pedido de desculpas do Júnior, que já se via numa dessas casas de correção só porque tinha queda para escrever literatura neo-noir.
O Júnior, ao pai, prometeu que teria mais juízo de aqui para frente. À mãe prometeu que, caso quisesse enveredar pela vida do crime, iria passar a planear as suas ações maléficas com mais premeditação.
E assim terminou o sexto ano e começou sétimo.
Estamos o quê? Na terceira semana de aulas e já trouxe um recado na caderneta e uma perturbação da sala de aula, em conjunto com outro miúdo.
A Ana ainda pensou que era o mesmo compincha do ano passado, mas não, é outro miúdo, que ele nem conhece.
- Se não conheces, nem é teu amigo, porque estás sentado ao lado dele?
- A professora não nos deixa sentar onde nós queremos, acredita que na ordem alfabética, diz que é melhor para evitar distúrbios...Pelo visto está enganada, diz levantando ligeiramente sobrancelha, com um ar imperturbavelmente cínico....

Ahahahahahahahaha
Este miúdo faz-se pensa a mãe...tem é que deixar de ser apanhado...

terça-feira, setembro 22

Não dormirás após seres mãe!

E pronto, é oficial: a Boneca é uma sonâmbula de primeira categoria, o que é pra lá de lixado para a Ana.
Como os únicos três leitores deste blogue sabem (a tia desocupada, a prima cusca e o ex desesperado), a Ana gosta de dormir.
Sabem também como o Júnior lhe fez a vida negra durante anos, ao dormir apenas de vez em quando, e conhecem a alegria que sentiu porque a Boneca era uma bebé que sabia dormir.
Ora isso acabou. De facto, o Júnior dorme mas a Boneca, que resolveu dormir bem até aos três anos, mudou de ideias a passou a desenvolver, como muita dedicação, a sua querida perturbaçãozinha do sono.
Inicialmente, até tinha a sua graça, um episódio de sonambulismo de vez em quanto, a miúda a sentar-se na cama e a falar de uma forma tão coerente, que das primeiras vezes a Ana pensou que a Boneca estava acordada.
Depois começaram as gargalhadas a meio da noite. Acreditem, uma criança a rir às gargalhadas a meio da noite, com uma expressão vazia no rosto, é assustador, tipo filme de terror do género Bonecas Assassinas.
Depois começou a andar pela casa, a rir por exemplo sentada a meio da noite na sanita.
E agora faz aquilo que se convencionou chamar actividades complexas, ou seja, faz a vidinha dela como se tivesse acordada, vai ao wc, muda de roupa, muda de penteado, etc.
Ontem por exemplo a Ana deitou uma Boneca de camisa de dormir e a cabelo solto para acordar com uma Boneca nua e de totó.
Como isto acontece pelo menos uma vez por semana a noites da Ana estão cada vez mais complicadas até porque, agora tem que gerir o pavor do Pernas: e se a miúda sai porta fora a meio da noite e a mãe não dá por nada?!
Eu proponho que se amarre uma guita à perna da mãe e outra perna da filha...eheheheheheheheheh
 

quinta-feira, agosto 13

Amigo Imaginário



Desde que se conhecem que a Ana sabe que a outra sobrevive com a ajuda de um amigo imaginário.
Segue o conselho da Morena,  e resolve arranjar um para si própria.
Quem sabe se é disso que precisa? De um amigo imaginário...
 
A Morena foi muito precisa nas suas indicações, escolhe alguém com quem possas falar, que te faça rir, que te mantenha interessada pela vida, desperta.
Até explicou como era o dela. Um homem de estatura mediana, equilibrado. Um tipo na casa dos 50, com gosto pela poesia e pelas viagens, sem filhos pequenos. E com poder. Pelo menos com algum poder. Quiça até chefe de um pequeno estado...

A Ana pensou inicialmente num amigo imaginário extraterrestre. Seria apenas recuperar um antigo amigo imaginário de infância, não estaria a arriscar muito. Depois, resolveu apelar à mulher cosmopolita que sufocou durante demasiado tempo, decidiu-se por um terráqueo.
Um tipo da idade dela, isto é, com mais de 40 anos mas com a mania de que não tem mais do que 30, dupla nacionalidade, duas tatuagens, um piercing no umbigo, meio dred , descontraído , educado, filho de diplomatas, várias ex-mulheres e um filho apenas.
Deliberou que quando lhe telefona ele atende a cantar. Toca vários instrumentos e dança lindamente, fala pelos cotovelos e em pelo menos três idiomas.
Tem um senão, tem dias em que está meio cacimbado...mas também tem dias em que não está.

Enfim... ...et la boucle est bouclée...um extraterrestre mesmo.

Ela não disse, mas eu Jonas Peixes, acredito que quando esse wi fala é com prenúncia angolana...a Ana está convencida que com os angolanos ri mais e melhor...o pior é quando der para chorar...eheheheheh é tudo em grande em Angola.
 
 
 

terça-feira, julho 28

Diferentes perspectivas

O Júnior descobriu que consegue controlar a TV através do iPhone ao mesmo tempo que a Boneca descobriu que a casa está assombrada: há um fantasma que muda de canal, aumenta e baixa o som sempre que ela está a ver TV...

quarta-feira, julho 1

Do medo à vergonha



O Júnior gosta de brincadeiras truculentas e barulhentas e consegue arrastar a Boneca na maior parte das vezes para estas actividades.
Brincadeiras vigorosas em que um miúdo de 11  anos carrega de variadas formas uma miúda de 7 anos.
Ás cavalitas escada abaixo, içando-a e deixando que caia no chão ou no sofá ou então enrolando-a à cintura ao melhor estilo acrobático, rodando,rodando rodando com a irmã atada à cintura
A Ana tem dias em que anda mais sensível ao barulho e mais temerosa de lesões físicas e acabou por lhes pedir aos berros para parar. 
Dois motivos a moviam. Primeiro, tinha medo que se magoassem. Segundo, precisava mesmo de gritar.
- Também tens medo de tudo, reclamaram as doces criancinhas.
- Ou param, ou faço pino!, foi a a ameaça...
Ou param ou faço o pino!? A sério? Isso é lá forma de disciplinar crianças...
Mas funciona...
Ao Júnior faz-lhe muita impressão que a mãe de repente faça o pino, mesmo que seja contra a parede que é mais fácil. Tem medo que a mãe se magoe...
Tem medo...
Dou-lhe dois anos para que comece a ter vergonha...

terça-feira, maio 5

Starving Proposal à angolana




A Morena e a Ana persistem na sua estranha amizade.
Mas não é fácil.
Desta vez a Morena decidiu que precisa de perder pelo menos 5Kg, e quer que a Ana perca também 5 Kg.
Reconhece que a Ana não precisa tanto de perder peso como ela, mas isso é secundário, quer companhia.
É bonito ver uma amizade assim, tão cheia de reciprocidade...
É lindo perceber que mesmo que a Ana arranje amigas em vez de amigos, as exigências dessas amizades continuam, por assim dizer, peculiares.

E já escolheu o local para passar a Páscoa com esse projecto em mente.
Tem o projecto de passarem 15 dias a passar fome,  rodeadas de luxo, clisteres e transfusões de sangue oxigenado num estranho SPA, com uma diária por pessoa semelhante ao salário mínimo português.
A Ana ainda disse que ia. À boa maneira portuguesa pensou eu vou, e logo se arranja outra para fazer dieta por mim...Mas depois percebeu que era mesmo para passar fome e inventou uma desculpa qualquer e não foi.


Quando a Morena voltou vinha mais magra e um bocadinho distante, passar fome sozinha não tem graça...

- Não foste porque não querias ir, disparou a Morena.
- Se ainda fosse para comer uma moambada regada de Moet &Chandon, disse-lhe a Ana...agora para passar fome...
- Ana, disse a outra estalando os lábios  com desprezo,desculpa que te diga isto, mas estás cada vez mais angolana...



quinta-feira, abril 23

Ser angolana não é para todas




A Ana anda de rastos!

Quinze dias depois da Morena ter regressado a Angola ainda sente dores no corpo dos dois dias que passou com ela.
Apesar da Ana ter dentro dela uma pequena angolana a crescer, o corpo ainda não está preparado para o que lhe é exigido em dois dias com a Morena.

E o problema nem foram as várias e demoradas refeições em restaurantes da moda, onde ela fica com grandes dores de bunda. Há que perceber que o matako dela não é tão almofadado como o da Morena!!!
Também não foram os múltiplos eventos, exposições ou concertos que a fatigaram.
Sobreviveu bem à partilha de intimidades, apesar de ter tido que inventar algumas da parte dela...
O que acabou com a Ana foram mesmo as compras! Aqueles bracinhos branquelas não conseguem carregar tantos sacos de compras durante tantas horas.
O problema nem foi na Av. da Liberdade porque aí o Hugo ia atrás delas recolhendo os sacos das compras no porta bagagens.
Mas e no El Corte Inglés? Aí não havia Hugo...

Horas e horas de ginásio e não aguentou dois dias de compras...
Lá para o fim, até conseguiu deslocar um ombro com a mala Hermés da amiga, a pesar uns 10Kg.
Foi ela sobreviver a todas as provas de angolanidade e veio a morrer perto da meta na prova de fôlego que é  o El Corte Inglés...

Ser angolana não é para todas...




terça-feira, março 31

O outro lado




Farta das amizades masculinas.
Farta de andar ao colo com os gajos quando estes se separam das mulheres, amantes ou/e namoradas. Ainda lhe doem os braços do esforço que fez da última vez. Gajos pesados como o caraças, de barba rija, chorões da treta!
Saturada de pedidos de demonstração de solidariedade masculina, como aqui, aqui e aqui.

É oficial,  a Ana finalmente deu para o outro lado.
É verdade. Resolveu deixar-se adoptar pela Morena. É certo que lhe tem dado uma trabalheira, como bem se sabe, as amizades femininas exigem sempre, mesmo em tempos normais, muito mais empenho.
Há que saber detalhes da biografia, conhecer traumas de infância, saber o nome dos filhos, dos ex-maridos, e actuais amores, quem são as amigas e as inimigas...
É muita informação a reter. É preciso muita força de vontade para mudar. 
Acabaram os almoços em silêncio em tascas barulhentas e começaram as refeições em locais trendy escolhidos a dedo.
Acabaram as refeições acompanhadas de Cola Light e Água Tónica e entrou o Champagne a rodos.

Face a isto nem é tanto o medo que o frágil aparelho digestivo fique knock out é duvidar mesmo que a Ana consiga sobreviver a tanta conversa, tanta partilha e tanta intimidade.

Dou-lhes 6 meses!

sexta-feira, março 27

De 4 com o 6




Depois de o iPhone 4 ter avariado de um dia para o outro, a Ana jurou a si mesma que nunca mais arranjaria outro. Nunca tinha gostado tanto de um telemóvel e levou a mal aquilo do iPhone ter deixado de funcionar.  Disse que não precisava daquilo para nada, que era um gadget demasiado sofisticado, indicado para pessoas modernas e cosmopolitas, e  entregou-se de novo ao fiel Nokia com 10 anos.
 
Foi uma surpresa geral quando, umas semanas depois, apareceu com um iPhone 6! 
Nos dias que se seguiram declarava sem cessar que o iPhone 6 era o melhor telefone da sua vida e que nunca outro lhe teria dado tantas alegrias.
De repente até parecia que tinha esquecido o desgosto que iPhone 4 lhe tinha dado!
 
Mas o que as pessoas ainda não sabem, é que dentro da Ana está a crescer uma pequena angolana, que se passeia pela Av. da Liberdade e pelo El Corte Inglés  cheia de sacos de compras.
Que gosta de coisas boas e caras, que se desunha por últimos modelos disto e daquilo.
Que ri alto e tem opinião sobre tudo.
Que cura os desgostos à grande, em vez do downsize europeu aposta no upgrade angolano.
 
E a culpa é da Morena. A culpa, já se sabe, é sempre dos mais escuros...

segunda-feira, março 23

Um amor apressado




Há nova temporada de Masterchef para grande felicidade do Júnior e da Boneca.
Acompanham o concurso. Escolhem os seus concorrentes preferidos. Brincam. Analisam as refeições lá de casa como se fossem os jurados.

O problema é que o Masterchef começa a dar cabo dos nervos da Ana. Ver um monte de gente a cozinhar coisas que ela adoraria comer, descontrola-a. Mas pior do que isso, é ter que levar com o stress dos concorrentes, com as lágrimas e com aquela coisa irritante de "cozinhar com muito amor".

Ontem passou-se e gritou, estou farta desta porcaria de cozinhar com amor, o que provocou, claro, as gargalhadas de Joker do Júnior.

Depois desta explosão dela, na TV o concurso continuou, o concorrente que cozinhava com amor faz agora um esforço para não chorar enquanto os jurados provam o seu prato.

- A sério! Estou-me a passar, ainda aguento isto do amor agora esta coisa das lágrimas é de vomitar! E depois, eu nunca cozinho com amor! Cozinho com pressa, diz já aos gritos.
Aqui o Júnior já ri às gargalhadas com lágrimas. Ele adora ver a mãe descontrolada...

A Boneca, que está sentada no chão mesmo em cima da TV, alheia, como sempre, a toda a agitação dos outros dois, volta a cabeça para a mãe e diz com a sua serenidade habitual:
- E fica bom!.

Silêncio.

A Boneca repete,cozinhas com pressa mas fica sempre muito bom, e faz um sorriso reconfortante.

E eu digo, com risco de perder o acesso definitivo à net, cozinha com pressa, com amor apressado...

quinta-feira, março 19

Bando de anormais...



Primeiro foi a rapariga das castanhas. Topou-a logo de início, de certeza, e um dia destes meteu conversa.
Até já lhe fiou um dia meia dúzia de castanhas assadas.
Falam sobre maquilhagem, roupa e do que calha. Elogiam-se uma outra.
Miram-se e admiram-se, as duas sem a menor noção do que devem vestir no seu dia-a-dia. 
A rapariga das castanhas porque se veste como se estivesse ao balcão de uma loja de roupa alternativa, sempre maquilhada num estilo cool chic e , no entanto está ali, no Campo Grande à chuva e ao vento a vender castanhas. 
Quando à Ana já se sabe, voltou a vestir-se de forma temática e cada vez mais se está nas tintas para o dress code implícito da sua profissão.

Hoje apareceu o Jójó. O Jójó refere-se a ele próprio na terceira pessoa do singular. Sempre. Vende à porta do Metro carteiras para o passe, malas para levar o almoço e outras coisas que consegue transportar. Porque o Jójó não tem banca.
Jójó sentou-se ao lado dela à espera do comboio e com a desculpa do frio desatou a falar com ela como se fosse habitual falarem todos os dias. É certo e sabido que há meses que a topou e espanta-se por ela confessar que nunca o viu a vender. Nunca o viu. 
Depois de hoje até sabe a que horas ele abre a torneira da banheira de manhã para tomar banho, é às cinco e quarenta e cinco.
Entra na carruagem e contínua a falar como se fosse a coisa mais natural do mundo, despede-se no Areeiro com a familiaridade de um velho conhecido.

E ela fica ali, a pensar que apesar do esforço que faz para passar despercebida, para ser normal e anódina, para se dissolver na multidão, é um esforço em vão, nunca irá funcionar.
Desde miúda que atrai gente perdida, só, com um parafuso a menos...a tribo dela.

Ana, a futura velha gaiteira



Um destes dias a Ana foi ao El Corte Inglés para mais uma sessão do Curso de Literatura Policial.

Ficar ali sentada durante duas horas,  a ouvir falar de livros onde pelo menos uma pessoa, por obra, morre dá-lhe uma paz de espírito suspeita.

No entanto hoje o prazer dela foi a dobrar. No piso onde decorrem as aulas estava a colecção nova de fatos de banho e biquínis e mais uma vez verificou que não há por lá nada que lhe fique bem.

Prazer dela, não meu ou vosso.

É que a Ana não é apenas ridícula quando se recusa a aceitar aquilo que tem de parecido com a mãe dela.

É ridícula quando insiste em usar, no verão, biquínis reduzidos alegando que os fatos-de-banho lady like não lhe ficam nada bem. Chega todos os anos do El Corte Inglés a dizer que não têm nada de jeito que lhe fique bem e acaba a comprar biquínis na net que não tarda nada servirão apenas à Boneca...

Temo que à medida que as carnes lhe mirrem se transforme numa daquelas velhas excêntricas, deitadas ao sol sem a menor noção de estética ou decência!

MEDO! MUITO MEDO...





segunda-feira, março 9

Tal mãe, tal filha


 
Todos sabem que a Ana trata a mãe dela abaixo de cão. Da mesma forma que tratava o pai acima de gato.
 
Não há nada a fazer.
 
Uma das coisas que ela mais detesta é que lhe digam que está ou é parecida com a mãe dela. Sente-se de imediato despromovida.
 
Quando era miúda, uma das coisas que ela mais detestava era que mãe se atirasse para cima da cama dizendo "estou morta". Aquilo assustava-a. Era uma brincadeira parva, cruel e sem sentido.
 
De nada servia a mãe da Ana dizer que já a mãe dela também tinha a mania de fazer esta brincadeira.
 
Um destes dias a Ana atirou-se para cima da cama e declarou que estava morta. Fê-lo porque estava cansada de aturar os miúdos, desesperada por uns momentos de paz. Ninguém se assustou. Mas ninguém achou piada.
 
A Ana ficou horrorizada porque de repente já não são apenas as outras pessoas que a consideram igual à mãe: ela está igual a mãe!
 
Mas para provar que não é apenas uma borboleta apardalada como a mãe, mas sim uma criatura maquiavélica, manipuladora e profética como o pai, disse aos miúdos que estavam na presença de uma brincadeira de forte tradição familiar e que deveriam dar-lhe continuidade.
 
Tem mau perder esta gaja!

quarta-feira, fevereiro 4

Cerco ao Pai Natal à Fada dos Dendes....


Há já algum tempo que o Júnior anda a tentar passar a perna a estes dois.






Com fracos resultados mas ele bem que tenta.

No Natal, já há algum tempo que tenta  instalar sistemas de video-vigilância, cada vez mais sofisticados, utilizando os diferentes gadjets que vai recebendo. Alguns deles presentes do próprio Pai Natal...

Objectivo: provar que o Pai Natal não existe.

Colocar pimenta nas cenouras das renas, só para as ouvir espirrar, foi uma técnica já abandonada porque corresponde a outra época cujo objectivo era ver o Pai Natal.

O Júnior esperava que com os espirros de um monte de renas ele acordasse com o barulho...

Provavelmente nenhuma das técnicas funcionou devido a boicotes de diversa ordem dos acólitos do Pai Natal...

No entanto estas demarches têm apenas uma periocidicidade anual, já com a Fada dos Dentes a relação é mais frequente. O Júnior ainda só viveu onze Natais, em alguns era demasiado pequeno, por isso só contarão os últimos como anos em que fez questão de colocar à prova o Pai Natal,  já dentes caem-lhe de vez em quando e várias vezes ao ano.

Assim, sempre que lhe cai um dende, tenta dificultar a vida da Fada dos Dentes ao máximo. Da última vez escondeu o dente, em vez de o colocar debaixo da almofada, e foi uma carga de trabalhos para ela o encontrar. Ela a Fada dos Dentes, claro...

Esta semana cansado de tentar enganar a Fada dos Dentes, numa tentativa de desmascará-la provando que a dita cuja não existe resolveu aceitar que sim e deixou juntamente com o dente debaixo da almofada um recibo de quitação para que ela o assinasse.
É muito judeu este miúdo!

Como ela assinou, não se fala mais nisso! A Fada das Dentes, amiga da burocracia, só pode mesmo ser real...






quinta-feira, janeiro 22

D´us essa criatura imaginária...




Quando o Júnior quer que acreditemos numa história qualquer inverosímil, jura por D`us.

A avó Livi fica normalmente lívida e diz-lhe que isso não se faz, que se queremos mentir não devemos fazê-lo em nome do Senhor. A ter que mentir pelo menos que se jure por um cão, um gato, enfim um animal...

Ele, o Júnior fica chocado com a sugestão da avó, quer lá colocar em risco a vida de um ser vivo se pode simplesmente jurar por uma entidade que não existe.

O Júnior nunca leu A Grande Arte de Rubem Fonseca, nada sabe sobre o anão negro Zakkai e as suas histórias de palrador empolado mas se por qualquer motivo se encontrassem já teriam dois pontos em comum.

O Júnior tal como o anão Zakkai gosta de palrar sem parar e fazer apelo a seres imaginários em horas de aperto e assim prefere em caso de alguma história que conte com uma relação distante com a verdade jurar por D'us que a história é verdadeira.

O anão Zakkai, e estou a citar, ao contar uma das suas histórias que envolve uma mulher monumental diz que naquela situação concreta de aperto apelou à D'us porque gosta de trazer para o mundo real pessoas inventadas, seres do mundo da fantasia.

Mas o Júnior, apesar de não ter lido o livro A grande arte começa a dar mostra de conseguir dominar a "a grande arte" de contar uma história qualquer, inacreditável e exagerada, de forma a que pareça credível e natural.

E vocês bisbilhoteiros do caraças, se querem perceber do que estou falar leiam o livro pá!

PS: Tu não, Júnior, amigão que ainda não tens idade...