A Ana não tem amigos. Todos sabemos isto e já por aqui tem sido falado, por mim, e pelos meus antecessores escribas. Quanto muito poderíamos dizer que a ter amigos serão como aqueles bons amigos a que se refere o Miguel Esteves Cardoso, que nunca são para as ocasiões e o que ele curiosamente vê como uma vantagem. Fala ele dos amigos que são para sempre e para quem a "ideia utilitária da amizade, como entreajuda, pronto-socorro mútuo, troca de favores, depósito de confiança, sociedade de desabafos, mete nojo."
A meu ver, este tipo de amigos, é perfeitamente inútil. Estes não servem para nada. Mas deve ser o meu sangue tropical a falar...
Este conceito, no caso da Ana, é levado ao extremo e assim seja qual for a ocasião que se apresente está, obviamente, livre da presença de amigos. Assim vejamos o que faz a Ana quando precisa de ajuda: ou é ajudada por um completo desconhecido que naquela momento lhe dá uma mãozinha solidária ou contrata alguém ou mais frequente ainda cerra os dentes e ajuda-se a ela própria.
Passam-se meses sem que o telefone toque e seja um amigo. Normalmente é alguém a tentar vender qualquer coisa ou então é engano. Mas ontem o telefone tocou e era um amigo!
- Ê pá! LIguei-te por engano, ouve do outro lado. Mas olha se quiseres falar podemos falar, continua o vozeirão do outro lado, é daqueles amigos que falam a gritar, como se estivessem numa parada.
Claro que quer falar, vai lá perder esta oportunidade...
- Ê pá! Mas se quiseres falar tens que me voltar a ligar pá.Tenho um tarifário de merda agora.
É claro que ela devolve a chamada, para falar. Falar com um amigo da Ana normalmente significa que o amigo fala sem parar do que fez, do que faz, do que está a fazer, do que lhe fizeram, do que irá fazer, até esgotar o assunto. E foi o que aconteceu. Eles falam e ela limita-se a umas interjeições que incentivam ao "diálogo". Ontem foram 35 minutos de "conversa".
Depois de desligar ficou ali a rir-se da situação. Das relações que (não) consegue estabelecer e da vida. Os meus " amigos" não são assim tão inúteis se me fazem rir. Certo Jonas?
E é isto.