No entanto esta noite não resisti porque aquilo que se passou deixou-nos a mim Jonas e a ela Ana a pensar.
Hoje à noite a Ana distraiu-se ocupada num dos seus projectos alternativos e esqueceu-se do Júnior na sala. Passou a hora de dormir e eu e o miúdo ficamos a ver a novela. Quando de repente a Ana chega à sala, meio apressada, o Júnior aponta para a TV e diz:
- Este é o senhor que matou um cão. É mau. E o cão morreu de olhos abertos, sabias?
- Não devias ver isto, já é muito tarde, vamos dormir, respondeu a Ana com um ar culpado.
- Mas ele matou o cão, insistiu ele.
- Como é que sabes? Se calhar não foi ele...
- Já vi isto mais vezes com a avó. Ele é mau. Tem mau humor. Olha, é como o pai!
- O pai não é mau, Júnior. Por exemplo o pai nunca matou um cão!
- Pois não. Mas matou uma aranha, que eu vi! E uma aranha é um animal, não é? Então matou um animal. E uma aranha tem família, não é? Então? É mau.
A Ana ficou a olhar para ele sem dizer uma palavra. Eu fiquei de boca aberta, impressionado com o pensamento lógico dele, afinal tem só cinco anos. Ele ficou a olhar para nós os dois. Abanou a cabeça e disse:
- Então, mãe, anda lá, vamos para o meu quarto. Hoje quero que me contes uma história que não venha num livro!
Subiram a escada e eu fiquei a pensar:
Mas será que as aranhas têm família?
6 comentários:
Estou orgulhosa do Junior! E' preciso manter os valores da familia. E' a instituicao mais importante que nos temos. Mesmo que seja de aranhas.
Titi
Ou de formigas..lol
Uáu! que menino budista! :)
Bem, de facto é de evitar causar sofrimento desnecessário a qualquer forma de vida, mas viver é a outra face de morrer.
Acerca dos direitos dos animais, tem havido umas discussões interessantes, já que existe um plano ético e outro jurídico que não coincidem necessariamente.
Por outro lado, a lógica infantil de associar "matar" a "mau" é ainda algo primitiva ou ingénua, pois pode haver de facto uma justificação para essa morte voluntária de um ser vivo, que represente inclusive um exemplo de bondade e compaixão. Nisso se enquadra a outra questão difícil da eutanásia, por exemplo.
Anyway... o que é preciso sobretudo respeitar é esta sensibilidade que preza o sagrado valor da vida e evita ao máximo todo o sofrimento inútil e evitável. Por isso, no Budismo só há mesmo uma falta ou pecado: causar voluntariamente dor a qualquer ser senciente, é esse o mal maior!
Leprechaun,
Tem toda a razão. Agora explique isso ao pai da criança que anda literalmente a bater mal convencido que o filho o vê, injustamente, como uma espécie insecticida humano. lol
Jonas, há quem ache que sim... o Imperrador Antoninus Heliogabalus, por exemplo, mandou fazer um censo das aranhas de Roma. Imagina só...
:-)
História estranha essa da contagem das aranhas...Aliás não sei o que acho mais estranho se a própria história ou facto de alguém conhecer esta história.
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