O Júnior gritou isto a plenos pulmões na sua vozinha infantil num tom mesmo zangado e eu que estava a boiar de barriga para cima fiquei na vertical como se fosse um cavalo-marinho. Não que eu goste de boiar. Só o faço porque me diverte ver a aflição da Ana quando me encontra assim porque pensa logo que bati a barbatana e fui desta para melhor. De qualquer forma mantive-me mais calado que uma alga filiforme à espera da reacção dos ditos responsáveis pela educação do petiz.
-Júnior, isso não se diz ,disse a Ana naquele tom de voz esta porcaria é mesmo importante mas eu vou fingir que uma situação banal e corrente. Não se diz, é feio.
- É feio? Feio é a Boneca destruir a minha igreja que eu estava a construir. Até tinha três torres! A Boneca é uma puta. Mesmo puta
- Não estou a perceber o que é que uma coisa tem a ver com a outra, diz a mãe já com outro olhar (quando é que o miúdo acaba com esta trampa da construção de igrejas?...) ao mesmo tempo que olhava para a apocalíptica Boneca com um certo ar de aprovação, afinal a filha tinha destruído uma igreja!
- Então, diz o Júnior cada vez mais exasperado, na minha escola quando eu faço alguma coisa de mal os mais velhos dizem que eu sou um puto e dizem sai puto, sai. Sai puta! Sai diz ao virar-se para a irmã.
A Ana faz um ar sério, aquele ar tipo se disseres mais alguma coisa vou desatar a rir mas não quero que te apercebas. Eu por esta altura já ria abertamente fazendo baloiçar o aquário (pronto estou a exagerar um bocadinho...)
-Ouve,fofinho não podemos dizer isso.
-Então se os meninos são putos as meninas são putas.
- Fofinho os meninos podem ser putos mas as meninas não podem ser putas (conforme diz isto quase que lhe sai um gargalhada mas controla-se ela lá sabe porquê). Não se diz assim. Há nomes que se pode chamar aos rapazes mas que não se pode chamar as raparigas.
- Não é justo, diz o Júnior. Eu não acho justo.
- É! A vida nem sempre é justa, Júnior, diz ela com um riso atrás da orelha...
Eu concordo. A vida não é justa. Mas é divertida pa caraças!
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