segunda-feira, maio 25

O construtor de igrejas


Enquanto observo o Júnior a construir mais uma igreja, usando para tal os blocos de madeira e de plástico, há muito que deixou de construir castelos, carros ou casas agora só faz igrejas, recordo a nossa ida ao cemitério, sim porque eu também fui, uma vez que a ideia era visitar o avô Moisés que ainda não me conhecia a mim nem à Boneca...e lá fomos.
Na verdade a Ana pensava que resolvia, com uma ida ao cemitério,o problema espiritual do Júnior assim que percebeu qual era. Ele só queria ir para o céu como o Jesus para visitar o avô Moisés de quem sente muito falta. Quando confessou a coisa estava até meio a choramingar porque tinha medo de no regresso do céu não conseguir dar com a casa dele...e a mãe lá lhe prometeu que ficaria à janela a gritar o nome dele até vê-lo chegar o que o deixou logo mais descansado.
A ida ao cemitério foi normal, acho eu, se é que é normal entrar num cemitério um miúdo de cinco anos com um peixe preto dentro de um saco de plástico...mas se era isso que chamava a atenção rapidamente o foco se alterou. O Júnior assim que chegou à campa do avô ficou todo contente, apresentou-nos a mim e à Boneca e começou a empurrar a pedra. Então ninguém ajuda? Assim nunca o avô vai sair daqui com esta pedra tão pesada em cima. Vá lá ajudem!
A partir daqui foi a espiral de loucura típica deste aquário com o Júnior a fazer cada vez mais perguntas, cada vez mais alto e Ana a dar cada vez menos respostas e cada vez mais baixo enquanto uma multidão de viúvos e viúvas olhava na expectativa para ver qual seria a próxima questãozinha. De nada serviu explicar que só o corpo do avô estava ali porque o espírito já estava no céu porque o puto queria saber porque é que só uma parte do avô tinha ido para lá se o Jesus tinha ido todo!!!! Até porque ele não fazia ideia do que era o espírito...mesmo quando lhe disseram que o dele estava dentro dele perguntou se era no estômago ou nos pulmões que estava acrescentando ufano ,para quem quisesse ouvir, que tinha dois pulmões como se malta já não tivesse percebido pela gritaria dele.Depois quase gritou a perguntar, olhando para a vastidão do cemitério, se todas aquelas pessoas estavam mortas começando a percorrer as campas dando gritinhos de espanto sempre que via alguma coisa que lhe interessava. Tudo lhe interessava!!! Porque é que estão duas fotografias aqui?Uau! Este tem o Jesus na Cruz para quê? O avô não tem o Jesus porquê? Anda cá ver este, tem a mãe do Jesus em cima duma nuvem! Não sabia que ela também podia andar nas nuvens!!!... Está toda lá ou só uma parte, mamã?

Porque é que o avô tem uma árvore se toda a gente tem uma cruz e se é a árvore da vida porque é que o avô está morto? E se o Jesus era especial e por isso foi todo para o céu porque é que tu dizes que ele era um homem como outro qualquer? E porque é que o avô não tem uma cruz nem um Jesus? Estavam zangados? Mamã e o que é que está aqui escrito?

...

Não serviu de nada tudo isto. Tanta resposta e tanta pergunta... o miúdo continua a construir igrejas e, pior ainda, agora diz que quando for grande quer ter uma igreja só para ele.....(isto soa-me a qualquer coisa familiar...)

segunda-feira, maio 11

sexta-feira, maio 8

Dulcineia



Hoje dei por mim a ler o que a Dulcineia escreveu neste blogue entre 2005 e 2008 e fiquei cheia de saudades dela.
Saudades do pelo macio, dos dentinhos dela na minha pele, do barulho que as suas patinhas vaziam no soalho quando dava aquelas corridinhas repentinas, ...enfim na prática gostava que fosse possível chegar hoje a casa e ser recebida por aquele narizinho cor de rosa sempre no ar.
Jonas, desculpa lá, mas ter um peixe não é a mesma coisa!

quarta-feira, maio 6

AP/DP

Imagem:Jesus na versão do Júnior


A vida do Júnior mudou. Podemos mesmo falar da vida dele Antes da Páscoa e Depois da Páscoa.

Antes da Páscoa brincava aos piratas na hora do banho, havia sempre muito barulho, muita água na casa de banho ( na prática se eu me atirasse do aquário para o chão do wc continuaria a conseguir nadar...), gritos guerreiros, assaltos a barcos, pancadaria entre os bonecos, alguns feridos graves, tiros e disparos de canhões e havia sempre um pirata vencedor.
Enfim, tudo normal!
Agora brinca ao Jesus. É já sei. Está para lá de estranho. E é mais ou menos assim:
- Pessoal, olha ali! Estão ali uns para baptizar.
- Bora lá malta! Não podemos perder tempo!
- Rápido, rápido, que eles querem fugir....
Barulho, gritos, vozes várias, água por todo o lado.
- Onde está o Jesus? Precisamos do Jesus!
- Está ali em cima da nuvem com o pai dele, o Deus!
- Vou chamá-lo!
- Jesus, sai da nuvem, temos aqui muitos para baptizar.
- Vou já! Não os deixem fugir.
Barulho, confusão, gritaria, tudo com várias vozes, água por todo o lado até ao grito de vitória:

-Conseguimos! Estão todos baptizados!
- Viva! Viva!
Os bonecos são os mesmos, os piratas, e o Jesus é o boneco que representa o capitão pirata...

Repito a pergunta de uma amiga minha, minha irmã na fé, perplexa e horrorizada quando lhe contei a história:

-Mas afinal qual foi a versão da vida de Jesus que o puto viu, meu?

domingo, maio 3

De novo as aranhas...


- As aranhas também fazem coisas para o dia da mãe?

Pergunta o Júnior enquanto tenta dizimar as aranhas da varanda com uma pequena vassoura.

- Acho que sim..., responde a mãe.

- Ah! ´tá bem, diz indiferente, enquanto continua a tentar matá-las.
E eu é que sou cruel!!!