domingo, fevereiro 28

Ali Baba

Imagem retirada aqui.

-Papá, quase grita o miúdo assim que o pai se senta à mesa, sabes que a avó e a mãe estiveram hoje ao almoço a contar-me a história daquele ladrão que elas as duas conhecem, mas que agora não me lembro o nome...Sabes? Aquele que é o maior ladrão da nossa cidade, aquele que rouba tudo.

-Da nossa cidade não. Ele é o maior assaltante do nosso país. Rouba de norte a sul, todo país, diz a avó.

-Então, mamã, ladrão e assaltante é a mesma coisa? E como é que ele consegue estar em todo o lado?

- É simples fofinho, ele tem uma quadrilha. É assim uma espécie de grupo de amigos que roubam por ele.

- Amigos, não, ressalva o Júnior de dedo indicador em riste, eu acho que não são amigos, são ajudantes! Os ladrões têm é ajudantes!

- Este meu neto é tão esperto, soluça a avó emocionada.

- Mas afinal, diz o Pernas já com aquele ar desanimado tipo"eu não devia ter cá vindo jantar, o que é que me passou pela cabeça para não inventar uma desculpa qualquer", mas afinal repete interrompendo a algazarra familiar, de quem é que vocês estão a falar?

- Ora, senhor, responde a avó, quem poderá ser? É o Sócrates claro!

- Daaaaaaaaa, faz o Júnior.

- Daaaaaaaaa fazem a Avó, a Boneca e Ana também.


PS: Se este blogue publicar mais alguma coisa nos próximos dias só prova que o gajo não é assim tão mau como dizem.

Daaaaaaaaaaa...

sábado, fevereiro 27

De fuga para o Brasil

- TEFONE! TEFONE!, grita a Boneca toda satisfeita por estar a ajudar.


A Ana atende.


- Olá! Estás bom?


- Se estou bom!? Se estou bom!? Estou na merda o que é que achas?! É uma merda, continua a gritar com aquela voz grossa, e para começar podes tirar isso do altifalante e atender como deve ser, não ? Não há necessidade da tua mãe ouvir a nossa conversa.


- Não tenho isto em alta-voz, mente ela descaradamente, e para além disso com a tua gritaria colocar isto em alta-voz seria perfeitamente redundante. Não te preocupes estou cá em cima na casa de banho e ninguém nos ouve.


- Na casa-de-banho? Tu estás a a falar comigo e a cagar ao mesmo tempo?


- Não estou nada, pá! Fechei-me aqui para falar contigo.


- Então também não estás nua?


- Bolas! O que é que tu tens com isso!


- Desculpa. É o hábito. Desculpa...mas já agora estás ou não estás?


- Mas afinal o que é tu tens?


- Ora, o que é eu tenho? Estou na merda! Ela saiu de casa. Não me quer ver mais e diz que já não gosta de mim. Estou farto de chorar. Não sei o que hei-de fazer.


- Mas tu já não estavas à espera disto?


- Um gajo nunca espera uma merda destas não achas? Como é que aquela gaja deixou de gostar de mim assim de repente? Não dá para perceber, não dá. Tenho a certeza de que ela ainda gosta mim.


- Se calhar percebeu que não precisa de ti para nada e tomou uma decisão.


- Não precisa de mim para nada!? Porra, pá! Tu tens-me em grande conta. Porra! É só isso que me tens para dizer. Olha, eu não vou desistir, se queres saber. Vou lutar por ela até ao fim, vais ver. Eu sou gajo para mudar completamente por ela.


- Então, mas olha lá, se tu não mudaste nestes últimos 10 anos, por ela, vais mudar agora de repente? Não dá.


- Então para a ti as pessoas nunca mudam? Tu não acreditas em ninguém é o que é! Eu não vou desistir e pronto se não conseguir paciência mas fico com a consciência tranquila que tentei tudo.


- Que tentaste tudo depois de ela sair de casa...


- O que é que queres dizer com isso? Assumo! Assumo que só agora que ela não está que percebo que errei. Os fins-de-semana são horríveis aqui em casa, tudo me faz lembrar ela, tudo.


- Tu tens é que te distrair enquanto isso não se resolve. Por que é que não convidas uma tipa qualquer para sair?


- Não me apetece, não me apetece fazer nada.


Suspiro desanimado.


- Não tarda nada estamos os dois divorciados. O que, pensando bem, até não é mau.


Silêncio.


- Não sei o que te diga.


- Pois, a verdade é que se calhar tu nunca te vais conseguir divorciar e eu fico para aqui sozinho. Já pensaste que se estivessemos os dois divorciados podíamos ir os dois ao Brasil?


- Eu não sei se quero ir ao Brasil...


- Ou outro sítio qualquer. Porra! Tu és minha amiga. Vou precisar do teu apoio.



- Não achas que estás a pedir um bocadinho demais? As minhas amigas nunca me pediram nada do género. O máximo que me pedem é que vá com elas à casa de banho ou qualquer coisa assim.



- Cala-te! Tu és lá gaja para ter amigas. Tens-me a mim e mais dois ou três tipos que gostam de malucas e é tudo.



- Nisso és capaz de ter razão...



- Estou a contar contigo! Agora vou desligar, já me sinto melhor e vou comer qualquer coisa.



PIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIII



Ela descarrega o autoclismo.



-Jonas...

- ?

- Continuo sem saber se quero ir ao Brasil...

sexta-feira, fevereiro 26

Mas já chegámos à Madeira!?

Terça-feira, quatro da tarde.
A Ana pedala furiosamente na sua bicicleta elíptica enquanto eu nado cheio de energia à volta do meu aquário redondo. Work out time, people.
Toca o telefone mas ninguém atende, a avó dorme no sofá do quarto dela, a cabeça numa posição anatomicamente impossível e não ouve nada apesar dos gritos da Boneca.
-VOVÓ O TEFONE! VOVÓ O TEFONE!
Nada!
A Ana salta da elíptica ainda a correr, agarra no telefone coloca aquilo em alta-voz e atende.
Do outro lado oiço a voz de um tipo carregada de pronúncia alentejana.
- Ana? Estás boa? Estás com uma voz esquisita. O que é que estás a fazer?
- Estou a treinar na elíptica, estou um bocadinho ofegante é só isso.
- Estás nua?
- Nãããããõ...eu não tenho o hábito de fazer ginástica nua.
- Então estás com uns calções curtinhos e um top, não é?, diz o tipo com voz animada.
- E se estivesse?
- Diz-me ao menos que a roupa é bastante transparente!
- Olha, isto não se vai tornar num daqueles telefonemas tipo heavy breather pois não? Género tarado, não, pois não? É que eu sei quem tu és.
Risos.
Silêncio.
- Liguei-te para te perguntar se está tudo bem com aquela tua amiga da Madeira. É que tenho andado ocupado e só hoje é que me apercebi que aquilo do sábado passado foi mesmo em grande. Sabes alguma coisa dela?
- Da Carla? Está tudo bem com ela...pronto! rua dela já não existe e tem pedras até meio da janelas do piso térreo e para além disso a vista da casa dela é a daquela ribeira que se vê na tv cheia de carros. Mas tirando isso está tudo bem.
Risos.
Silêncio.
- Falei com o teu irmão. Já sei que também se divorciou. Pareceu-me bem.
- Então não há-de estar bem? Finalmente caiu na realidade. Aterrou. Do melhor. E era o que tu devias fazer. Se queres que te diga não percebo o que é que ainda fazes casada!
- Mas será assim tão bom ser divorciado? Não me digas que é só acção.
- Do mais.
Silêncio.
- Agora a sério, é meio parado...mas tenho algumas coisas em vista.
Risos.
- Não sei como aguentas continuar casada! Bom era voltarmos à Madeira. Até tive a pensar que se te divorciasses até ao verão podíamos combinar e ir passar umas férias à Madeira. A malta ia divertir-se furiosamente!
- Deixa ver se eu percebi bem: tu queres que eu me divorcie para podermos ir à Madeira no verão...
- Mais coisa menos coisa é isso. Eu depois telefono.

PIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIII

-Jonas, diz ela desligando o telefone, põe isto por escrito por favor. Tenho esperança que ao ler a conversa consiga perceber realmente o que se passou aqui...

quinta-feira, fevereiro 25

Iogurte fora de prazo

- Jonas, diz-me ela com aquele ar cansado, sinto-me um iogurte fora de prazo.
- Um iogurte fora de prazo? Sabes lá tu o que é um iogurte fora de prazo?, digo para tentar animá-la. Como é que te podes sentir um iogurte fora de prazo!? Olha, um iogurte fora de prazo não serve para nada. Por exemplo, ninguém quer comer um iogurte fora de prazo.
- Exactamente, suspira ela arrastando-se para o sofá.
- Não era bem isto que eu queria dizer, ainda acrescentei, não sou muito bom em metáforas.
- Tu não és bom em nada Jonas. Em nada. Nem sequer serves para comer um iogurte!
- É uma metáfora não é?
- Não excessivamente...

PORRA PRÁS METÁFORAS!

quarta-feira, fevereiro 17

A grande metáfora ou como quase acabei na barriga de um gato


Ana: Vou desfazer-me do peixe.


Loira: Vais dar o Jonas!? Mas porquê? Tu gostas tanto do teu peixe...Gostas da cor dele, dos olhinhos esbugalhados...estás sempre a falar disso.


Ana: Exactamente


Loura: Exactamente, o quê?


Ana: Gosto é claro mas acho que gosto dele mais do que ele gosta de mim.


Loura: É um peixe...É claro que gosta de ti à sua maneira mas não podes esperar que se comporte como um cão ou um gato.


Ana: Olha, não sei. Vou dá-lo e pronto. O nosso relacionamento é desigual. Não me liga nenhuma. Por exemplo, quando chego a casa se não for eu a dar um toque no aquário nem olha para mim. De vez em quando poderia ser ele a aproximar-se do vidro e tomar a iniciativa, não achas?


Loura: Ouve, os peixes são assim...


Ana: Queres ficar com ele?


Loura: Eu já tenho um gato se o levo já sabes o que pode acontecer.


Ana: Vou deitá-lo fora então.


Loura: OK eu levo o peixe. E agora vais ficar sem nenhum bicho em casa...


Ana: Arranjo outro. Eu sou lá mulher de ficar sem animal de estimação por muito tempo!


Loura: Vais comprar um pássaro?


Ana: Não. Vou arranjar um peixinho dourado.


Loura: Tu não gostas de peixes dourados. Toda a gente sabe que só gostas de peixes pretos! Então para que queres arranjar um peixe dourado?


Ana: Ora aí está! A relação vai ficar muito mais equilibrada e para além disso o Jonas não sabe que eu não gosto de peixinhos dourados e vai ficar cheio de ciúmes quando souber que eu arranjei um desses muito rapidamente e já o substituí!


Loura: Estou a ver...Nós não estamos a falar do peixe Jonas , pois não?


Ana: Não, nem por isso.


Loura: A conversa não é então sobre animais de estimação?


Ana: Não excessivamente.


rsrsrsrsrsrsrsrsrsrs

sábado, fevereiro 13

Pedidos especiais...




- Mamã, já viste isto?, pergunta o Júnior, mostrando um poster do esqueleto humano.

- ?

- Quando estiver no quarto ano vou aprender isto e vou precisar disto. Eu sei porque já vi os meninos do quarto ano com um desenho de um esqueleto dentro da mochila.

- !

- Mamã, diz muito entusiasmado como se tivesse de repente uma ideia brilhante, tens que me prometer uma coisa! Tens que prometer que vamos ao cemitério onde o avô Moisés está enterrado para destapar aquilo e ver como é que o avô ficou ao fim deste tempo todo.

- ...

- Não podemos! Mas porque é que não podemos? Olha então já sei, quanto tu morreres mandas-me uma carta com uma fotografia tua em esqueleto para eu ver como tu ficaste. Prometes?



8-)



(...e eu a pensar que ao pedir ás minhas babes fotografias delas nuas estava a ser arrojado...)

Girls just wanna have fun...

- Não gosto de te ver assim, diz o Pernas entrando no escritório. A sério, continua ele, tens que fazer alguma coisa. Olha, porque não telefonas a alguém e vais dar uma volta? Descontrais um bocadinho. Fazia-te bem.
- É. Gostava mesmo de ir jantar fora, descontrair, conversar e depois ir dançar um bocadinho, diz a Ana, já mais animada.
- É isso mesmo. Vai jantar com alguém, depois dás uma volta por um bar ou assim. Vês outras pessoas e ficas mais animada.
- :(
- Não me digas que não tens com quem sair. Porque é que não telefonas ao Fernando? Esse está sempre pronto para a farra e vocês os dois divertem-se sempre tanto juntos.
- :(
- Ele está sem a carta mas tu podes levar o teu carro. Vá mexe-te, liga-lhe e veste qualquer coisa tipo fato de mergulho e diverte-te.
- :(
- Pois tens razão. Assim não podes beber nada...Fazemos assim: quando estiveres despachada ligas-me e eu vou buscar-te a Lisboa. A sério que não me custa nada. Lá pelas 8 da manhã estou de certeza acordado.
-:(
- Bom, então ao menos promete-me que quando acabares essa coisa do trabalho vais descontrair um bocadinho. Tiras uns dias e vais para fora. Combinas com alguém e vais. Alguma pessoa com quem te apeteça realmente estar. Podias por exemplo ir passar uns dias aos Açores ou outro sítio qualquer que te apetecesse. Promete-me. Não gosta nada de ter ver assim tão sem energia.

É impressão minha ou isto é um nadinha estranho...

segunda-feira, fevereiro 1

De caixão à cova


E que dizer daquele que todos os meses tem pelo menos um velório ao fim do dia que se prolonga pela noite fora? Tem um ar apagadinho e logo por azar só trabalha com pessoas com familiares que não resistem a praticamente quase nada. Morrem constantemente e depois a solidariedade do tipo é tanta que quer estar presente neste momento de dor.
Eh, pá! Eu até acho a ideia genial. Excelente desculpa. Passa por gajo sensível enquanto vai molhando a palhinha com quem lhe dá na bolha.
Hoje era a mulher do ex-chefe que teria morrido só que a meio da conversa já dizia que era a mãe do ex-chefe.
Mas afinal morreu a família toda do tipo?
A primeira regra é simples people: get your story right first!
A segunda regra ainda é mais básica: a mulher que ouve isto sem pestanejar está completamente a cagar para o tipo e o mais provável é que ande a comer o gajo da funerária!
rsrsrsrsrsrsrsrrsr