quinta-feira, março 19

Bando de anormais...



Primeiro foi a rapariga das castanhas. Topou-a logo de início, de certeza, e um dia destes meteu conversa.
Até já lhe fiou um dia meia dúzia de castanhas assadas.
Falam sobre maquilhagem, roupa e do que calha. Elogiam-se uma outra.
Miram-se e admiram-se, as duas sem a menor noção do que devem vestir no seu dia-a-dia. 
A rapariga das castanhas porque se veste como se estivesse ao balcão de uma loja de roupa alternativa, sempre maquilhada num estilo cool chic e , no entanto está ali, no Campo Grande à chuva e ao vento a vender castanhas. 
Quando à Ana já se sabe, voltou a vestir-se de forma temática e cada vez mais se está nas tintas para o dress code implícito da sua profissão.

Hoje apareceu o Jójó. O Jójó refere-se a ele próprio na terceira pessoa do singular. Sempre. Vende à porta do Metro carteiras para o passe, malas para levar o almoço e outras coisas que consegue transportar. Porque o Jójó não tem banca.
Jójó sentou-se ao lado dela à espera do comboio e com a desculpa do frio desatou a falar com ela como se fosse habitual falarem todos os dias. É certo e sabido que há meses que a topou e espanta-se por ela confessar que nunca o viu a vender. Nunca o viu. 
Depois de hoje até sabe a que horas ele abre a torneira da banheira de manhã para tomar banho, é às cinco e quarenta e cinco.
Entra na carruagem e contínua a falar como se fosse a coisa mais natural do mundo, despede-se no Areeiro com a familiaridade de um velho conhecido.

E ela fica ali, a pensar que apesar do esforço que faz para passar despercebida, para ser normal e anódina, para se dissolver na multidão, é um esforço em vão, nunca irá funcionar.
Desde miúda que atrai gente perdida, só, com um parafuso a menos...a tribo dela.

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