segunda-feira, março 9

Tal mãe, tal filha


 
Todos sabem que a Ana trata a mãe dela abaixo de cão. Da mesma forma que tratava o pai acima de gato.
 
Não há nada a fazer.
 
Uma das coisas que ela mais detesta é que lhe digam que está ou é parecida com a mãe dela. Sente-se de imediato despromovida.
 
Quando era miúda, uma das coisas que ela mais detestava era que mãe se atirasse para cima da cama dizendo "estou morta". Aquilo assustava-a. Era uma brincadeira parva, cruel e sem sentido.
 
De nada servia a mãe da Ana dizer que já a mãe dela também tinha a mania de fazer esta brincadeira.
 
Um destes dias a Ana atirou-se para cima da cama e declarou que estava morta. Fê-lo porque estava cansada de aturar os miúdos, desesperada por uns momentos de paz. Ninguém se assustou. Mas ninguém achou piada.
 
A Ana ficou horrorizada porque de repente já não são apenas as outras pessoas que a consideram igual à mãe: ela está igual a mãe!
 
Mas para provar que não é apenas uma borboleta apardalada como a mãe, mas sim uma criatura maquiavélica, manipuladora e profética como o pai, disse aos miúdos que estavam na presença de uma brincadeira de forte tradição familiar e que deveriam dar-lhe continuidade.
 
Tem mau perder esta gaja!

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