quinta-feira, abril 27

Here she goes again...

A Ana deu duas moedas ao Júnior para comprar a minha papinha e ele lá foi todo contente. Voltou com a minha ração que foi logo colocar na minha taça. Está cada vez mais simpático e prestável, de vez em quando damo-nos tão bem que ele nem parece humano. O pior foi devolver o troco à mãe...Não queria largar o seu dinheirinho...A Ana comentou com o Pernas Peludas que este apego às moedas era mais um sinal de que o Júnior tinha mesmo carácter de pequeno judeu pois é do conhecimento geral que entre os judeus as questões financeiras são predominantes. Quando ouvi isto parei de mastigar porque com o ruído dos meus dentes a trincar a ração corria o risco de não perceber bem a resposta do Pernas que já estava com aquele ar "Here we go again..." e diz: Pensei que já tinhas ultrapassado essa situação! Então agora somos judeus outra vez? pergunta com ar de gozo. Somos não, que tu não és! Só sou eu e o Júnior. Olha que bom!, diz com ar sarcástico. E então quando é que se deu essa conversão? Ela argumentou logo que segundo alguns autores é judeu quem é filho de judeu e por que isso não houve necessidade de conversão. Aqui o Pernas quase se engasga a rir. Eu conheci o teu pai, lembras-te? Ele até podia ter mau feitio mas não era judeu. Segundo este livro sobre o judaísmo é judeu o filho de mulher judia, é uma transmissão matrilinear e a minha mãe tem uns parentes judeus e daí que...O Pernas nem a deixa acabar porque subitamente ficou interessado neste ramo familiar da Ana que não conhecia e que se fosse como o resto significava que em breve, quando os conhecesse, iria assistir a mais um bom número de circo grátis. Agora, quando ela lhe disse que tinha tomado conhecimento destes parentes através do livro do "Rol dos Judeus e seus descendentes" publicado pelo Arquivo Histórico da Madeira e que eram pessoas que teriam vivido lá para 1500...LIVROS, LIVROS, LIVROS! O teu mal é leres demais. Porque não fazes como a senhora tua mãe, A JUDIA, e vês umas novelas ou então melhor ainda porque não mandas uns argumentos para a TVI? E com isto o Pernas sai da sala a chamar pela mãe da Ana, Oh D. Livi então a senhora agora é judia? Qual foi a resposta da avó do Júnior? Fica para a próxima porque agora tenho que ir roer mais uns pedacinhos da minha apetitosa ração.

quarta-feira, abril 19

Pai Natal

Ainda durante a Páscoa, essa época de expiação e paz...Ofereceram ao Júnior um Pai Natal em chocolate. Pensavam o quê? Que tinha sido um Coelho de Chocolate, não? A criança que nunca tinha visto um apercebeu-se logo que aquilo era para comer e que pela cara do pai era artigo proibido. Não fez mais nada, agarrou no chocolate e fugiu da sala para o quarto onde se barricou com o seu refém comestível. O Pernas foi atrás e com a capacidade de negociação que o caracteriza iniciou as conversações com o Júnior. Ou seja, deu dois berros que até a mim me puseram as orelhas em pé (se é que isso é possível uma vez que nós coelhas temos sempre as orelhas mais ou menos espetadas senão estamos doentes ou a pensar atacar alguém), e disse "Sai já daí ou levas umas palmadas!" Do outro lado a resposta foi determinada "Não! Nããããããããoooooo!" ( ou não fosse esta a sua palavra de eleição). O Pernas lá forçou a porta ao melhor estilo Rambo e fomos encontrar o Júnior aquartelado debaixo da sua mesinha a tentar comer o chocolate o mais depressa possível. Assim que viu o Pernas engoliu a cabeça do Pai Natal, abraçou o que restava e não o quis largar. Já se está a ver como tudo isto acabou: entre choros e nódoas de chocolate pela roupa dos dois...Não chores Júnior que a tua Dulcineia viu onde te esconderam o chocolate e um dia destes ainda vamos arranjar maneira de o dividir entre os dois.

terça-feira, abril 18

Mais um ano em que o Natal foi na Páscoa...

Depois dos últimos acontecimentos confesso que estava curiosa sobre a forma como iria ser celebrada a Páscoa aqui na colónia. Teria lugar a Páscoa Cristã ou a Pessach Judáica? Pois nem uma nem outra. No dia 15 de Abril celebrámos, tal como no ano anterior , o Natal! Passo a explicar a origem deste estranho ritual. Então é assim, a Ana tem uma Prima que invariavelmente todos os anos se apresenta aqui na colónia com a família dela para a troca de prendas e para a consoada de Natal na Páscoa! Durante todo o ano ela e a Prima falam ao telefone e todos os meses combinam um encontro para lanchar ou almoçar. Pelo que pude perceber de início o Pernas organizava tudo com o marido da Prima, o Oceano ( e eu ainda me queixo porque me chamo Dulcineia...) mas no último instante elas desmarcavam tudo e para surpresa de todos voltavam a combinar tudo para o próximo fim-de-semana para voltar a cancelar para voltar a marcar para voltar a desmarcar e assim passam normalmente os anos. Conversa típica para esses dias: A tua Prima não vem cá almoçar hoje? Hoje? Sim hoje! Vocês combinaram. De certeza que ela não vem! Não vem? Olha lá Pernas para que é tanto espanto então tu não sabes do acordo? É simples nós marcamos mas na prática não nos damos ao trabalho de aparecer...E agora quem é que come os frangos assados que comprei, e os rissóis e....Olha come tu quem é que te manda ser parvo e ligar às minhas combinações com a minha Prima? Não tens nada de te meter, isto dura há anos e não és tu que só cá anda há meia duzia deles que vais alterar isto. O Pernas já não ouve o resto, refugia-se na cozinha e entretanto tropeça nos sacos do supermercado cheios de coisas para o almoço...Perante isto uma questão impõe-se: porque carga de água escolhem elas a Páscoa para se encontrarem? A resposta é simples. Estamos a falar da Ana e da Prima duas gulosas de primeira que naturalmente não resistem aos bombons que só aparecem no Natal e que aproveitam para oferecer uma à outra e que como são frescos têm que ser consumidos poucos meses depois...ou então estão estragados. Ou seja, elas no fundo só se visitam no limite... não não é no limite da saudade...é no limite do prazo de validade. Bom Natal!

terça-feira, abril 4

Nunca pensei defender o Pernas Peludas mas...

Jeffrey Archer no primeiro volume do "Diário da Prisão" afirma que quase não existem judeus detidos nas prisões inglesas porque pertencem a um grupo com maior coesão social e familiar o que previne os comportamentos desviantes. Esta declaração teve grande impacto na Ana que à falta de outro interlocutor acabou por comentar comigo esta ideia. Matutámos as duas sobre isto e chegámos à conclusão que para bem do futuro do Júnior ele deveria tornar-se judeu. Esta conversão seria no fundo um seguro de bom comportamento para ele. Eu concordei porque tenho dias assim, em que não me apetece discordar e também claro porque estava em pulgas ( salvo seja) para ver a cara do Pernas quando soubesse deste novo projecto. Sabes, acho que devíamos aproveitar o facto do Júnior ainda não ser baptizado para o convertermos ao Judaísmo. E disse isto assim de chofre e sem aviso. O PP olha, suspira, revira os olhos e tenta parecer interessado mas na verdade pensa "como é que eu fui acabar com esta louca, porque não casei com aquela magrinha que gostava de mim, como é que era mesmo o nome dela?" E com isto tudo distrai-se...Acorda com um já não me estás a ouvir irritado. É para o bem do Júnior e de seguida dispara com as estatísticas das prisões inglesas. Mas nós somos católicos! Mas podemos deixar de ser! É para o bem do teu filho! E no fim de contas Judeus, Católicos é tudo a mesma coisa. A única diferença é aquela situação pendente de Jesus Cristo e não será por isso que não nos iremos converter! Nós também temos que nos converter? Claro! Não me digas que o miúdo vai ficar em minoria religiosa na sua própria casa , não é? O.K. ( é mas é K. O....) Trata lá disso. Eu fico abismada o que este tipo é capaz de fazer para não se chatear, é mesmo um molengão! ( "A magrinha, era enfezada, mas tinha sido uma boa aposta, tinha, tinha..."). PP tenho que te avisar que há um pequeno senão: a circuncisão. Tu e o Júnior vão ter que ser circuncisados! Foi a gota de água para o PP...Chega! Parou! Já não aguento mais! Em Dezembro devíamos unir-nos aos católicos ultra-conservadores para travar a ameaça islâmica e as seitas. Em Fevereiro só porque a criança não entrou no colégio Jesuíta que queríamos passou-te a fé e o ideal era inscrevê-lo na Escola Islâmica de Palmela porque aí sim há princípios e tradição. Hoje já temos que ser Judeus. Têm paciência mas não. E foi à vida dele quase a rosnar. Eu ainda lhe sussurrei o Animismo...o Animismo é que está a dar. Sim, porque o que é preciso é muito ânimo para aturar este tipo delírios dela. (Nunca na vida pensei defender o Pernas Peludas mas never say never...)

segunda-feira, abril 3

NÃO!!!!

Estou completamente reconciliada com o Júnior. É verdade! E não é por ele ter resolvido a questão gastro-intestinal porque essa procissão ainda vai no adro. (Lá estou eu querer antecipar o 13 de Maio em Fátima mas eu sou assim, muito influenciável pelas vibrações que chegam.) Na verdade a nossa reconciliação foi feita mais numa base linguística como duas criaturas educadas que somos. Passo a explicar: durante os últimos dois meses o Júnior desenvolveu aquilo que poderiamos chamar uma muleta discursiva ou seja a palavra NÃO. Até aqui tudo bem, se eu aguento o "Pá" de quem nos visita...O problema é que nos últimos tempos tem sido demais porque a tudo responde NÃO mesmo quando é Sim. Quer uma bolacha? Não! Quer ir passear? Não! E grita, grita, grita Nãaaaaaaaaaaaao pelos corredores da casa de manhã à noite. Com voz estridente, com voz grossa, acho que tentou todas as entoações possíveis para a palavra... Quando está a comer desata a cantarolar "não" baixinho e vai subindo de tom até gritar...Dias difíceis quando me fazia esperas na gaiola de dedo em riste e a gritar não, não, não... Bom, continua a fazê-lo, mas agora, milagre, já diz sim. Muito baixinho com ar envergonhado de quem acabou por ceder às pressões, quase sem levantar a vista. Olhem aconteceu-lhe o mesmo que eu que quase já não rosno nem bufo. Estamos tããããããooo civilizados...